PESSOAS QUERIDAS
Antonia
Marchesin Gonçalves
Muitos anos se passaram e
ainda tenho na memória um grande amigo familiar. O seu carisma era forte,
alegre, divertido e um excelente médico cardiologista. Quando solteiro vinha
sempre almoçar ou jantar em casa. Sua risada contagiante repercutia em todo
tempo que conosco convivia.
Eu jovem no início da
adolescência, tímida e envergonhada, com o surgimento dos seios a aflorarem,
andava curvada, para escondê-los, ele com todo respeito fazia-me encostar reta
na parede, punha livros na minha cabeça e dizia, agora ande sem derrubar
nenhum. Eram regras de postura duma
época em que a mulher tinha que seguir perante a sociedade, altivez e
delicadeza.
Isso era desconfortável e eu
não gostava, mas ele insistia dizendo que a postura era importante para também não
prejudicar a coluna, eu adolescente ficava aborrecida e reclamava para minha mãe,
que por sua vez dava razão a ele. Ele, apesar de muito jovem, já tinha os
cabelos grisalhos o que aumentava o seu charme, a medida que convivia com ele,
sem perceber, sentia uma admiração crescente, talvez fosse a minha primeira
paixão.
Passaram anos. Eu já casada
recebo a notícia de sua morte e do filho mais velho num desastre de carro. Levei
anos sonhando sempre com eles vivos, acredito que o meu inconsciente não
aceitava as suas mortes.
Presenças marcantes em minha
vida, saudades de pessoas queridas.
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