A PAREDE DE HIERÓGLIFOS - Sérgio Dalla Vecchia




A PAREDE DE HIERÓGLIFOS
Sérgio Dalla Vecchia
  


Quando resolvi entrar de sócio no Clube Altos dos Pinheiros, na década de oitenta, buscava ambiente pequeno seleto e familiar.

Morava no bairro, com esposa e três filhos. Estava sob medida para as expectativas da família.

Após cumprir todas as etapas de pré-qualificação exigidas, adquiri um título patrimonial e passei a ser sócio com muito orgulho.

A arquitetura da sede era harmônica e arrojada. Vigas aparentes em balanço, avançavam sobre um grande terraço, em direção às superfícies azuis das piscinas, dando amplitude ao ambiente.

Passando pela portaria principal, à direita chegava-se as quadras esportivas, à esquerda, alguns degraus e ao frescor das piscinas. Seguindo-se em frente, deparava-se à direita com uma parede de pequena inclinação positiva, que contornava toda entrada do teatro.
Essa parede sempre chamou minha atenção pela originalidade.

Era revestida com restos de barras de ferro, utilizadas na construção.
Parabéns ao arquiteto Fabio Penteado, que salvou as pobres pontas de ferro de uma morte horrível, numa fundição de ferro velho.

Transformou morte em vida.

Pedaços de ferro, curvos, retos, bengalas, quadrados e tantos outros formatos, pareciam hieróglifos, cuidadosamente dispostos formando orações de proteção, como nas Pirâmides e para ali se perpetuarem como guardiões do clube.

Assim, em agradecimento a arte do sábio arquiteto, que lhes deu a vida, juraram expulsar toda má sorte, pessimismos e figuras do mal que porventura venham desarmonizar a paz dos associados.
Missão cumprida!



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