Indiscrição
Ises
A. Abrahamsohn
Thaís
e o namorado chegaram cedo ao bar. Era um bom lugar para se ouvir jazz. O show
começaria por volta das dez e meia, mas muitas mesas já estavam ocupadas.
A
moça gostava de ir àquele bar no centro da cidade pela música e também
para observar os frequentadores. Era uma mistura eclética e descontraída de
pessoas de vários tipos e idades.
Bebericava
o gin tônica enquanto o olhar vagava distraído pelas mesas mais próximas.
̶
Gui, olha aquela mesa lá. Será que estou vendo mesmo o que estou vendo?
Apertou
os olhos e indicou a direção com um gesto lateral da mão.
̶
Reconheceu alguém? Eu não estou vendo ninguém conhecido.
̶
Como não, Gui, olhe bem, a loira de cabelo comprido e vestido azul na
mesa perto do bar, com o cara de camisa clara.
̶
Tô vendo. O que é que tem? Não conheço nem ele, nem ela.
̶
Você é mesmo desligado. Olhe bem. Não lembra ninguém?
Guilherme
olhou de novo para o casal e nada.
̶
Você lembra do professor de literatura inglesa do ano passado? Tenho
certeza que é ele.
̶
Como ele, Thaís? Tá sonhando? O cara é muito mais corpulento e moreno. O
prof... Como era o nome dele mesmo? Lembrei! É Jeffrey. Era ótimo. Cabelo
claro, magro, cara mesmo de inglês!
̶
Não é ele, é ela, seu desligado! Ele é a loira! Que loucura! Vou ao
toalete que fica daquele lado para olhar mais de perto.
̶
E se for ele! Não é da sua conta. Deixe o cara em paz.
Mas
a moça insistiu. Quando se levantou para ir ao toalete, a loira havia se
antecipado na mesma direção.
Ao
entrar no banheiro o seu alvo já estava num dos cubículos. Thais entrou no
vizinho. Melhor assim, pensou. Vai que ele me reconhece.... Vou esperar
ele sair.
Ouviu
o ruído inconfundível do forte jato e depois a voz:
̶
E aí Thais? How are you tonight? Are you surprised? Does it make any
difference? Just stop staring at me!
A
moça, morta de vergonha, ficou calada. Esperou o ex-professor sair do banheiro,
passou por trás das mesas e convenceu o Gui, que não entendeu de pronto o
porquê da pressa, a irem embora antes do
show.
Esse texto é muito bom, Ises! Como aliás tudo que você escreve.
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