Magia
Maria
Verônica Azevedo
A
tarefa era entrevistar uma escritora famosa.
Beatriz
tenta de todas as formas um contato com ela: telefonema, e-mail, WhatsApp, recados
na portaria do prédio, e nada.
O
jeito foi fazer plantão na frente do prédio do outro lado da rua.
Tinha
certeza que ela estava em casa, pelo depoimento do porteiro. Mas não atendia o
interfone. Ele não ficou alarmado porque era sempre assim.
Só
restava esperar que ela saísse, para então fazer a abordagem.
O
dia já ia adiantado. A fome bateu. Beatriz foi até o bar da esquina em busca de
um sanduíche.
Na
volta para seu posto de espera, levou um encontrão de alguém e lá se foi o
celular novinho... Sentada no chão, com
o joelho esfolado, caiu no choro.
O
problema não era o celular, mas sim todos os seus contatos que se perdiam. Bem
que o Luis tinha dito para ela fazer um backup. Tinha deixado para depois...
Não
dava nem para pedir ajuda.
Ficou
ali sentada na beirada da calçada, esperando recuperar a calma.
Ouviu
uma voz doce ao seu lado:
—
A senhora se machucou? Quer ajuda?
Levantando
os olhos ainda marejados, viu a menina, no portão da casa, olhando para ela com
doçura.
Enxugou
as lágrimas com o dorso da mão e esboçou um sorriso amarelo.
A
pequena abriu o portão e lhe deu espaço. Era um convite.
Sem
saber direito porque, Beatriz seguiu a menina pelo corredor lateral da casa.
Era
um jardim fracamente iluminado pelas lâmpadas de postes espalhados por ali.
No
final do corredor abria-se um jardim maior. No centro, uma casinha azul com uma
rede pendurada na frente. Era uma casa de bonecas.
A
menina abriu a porta. Entrou a procura de algo.
Beatriz
se ajoelhou e esperou. Não dava para entrar. A porta era muito pequena.
Pouco
depois a criança saiu com um pratinho de biscoitos. Ofereceu.
Beatriz
aceitou. Sentada na grama ao lado dela, a pequena esperava com ar de
interrogação.
A
jornalista já nem se lembrava o que estava fazendo ali. Esqueceu-se da
escritora e ficou conversando com a pequena Lucrécia.
Quando
o sono de apoderou das duas, Beatriz se foi e a menina ficou no portão acenando
para ela.
No
domingo seguinte, podia-se ler, no jornal, a crônica:
“A magia da casinha azul, por Beatriz
Machado”.
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