Crônica
O jogo do Zoológico
Ises
A. Abrahamsohn
Achei
que não existia mais. Pelo menos em São Paulo. Competindo com a miríade
de jogos, lotos e sorteios bancados pelo governo o velho jogo do bicho estaria
mesmo fadado a desaparecer! Engano meu! Foi o que percebi ao ver a fila
de cidadãos pacientemente esperando para fazer a aposta. Num primeiro momento
não me ocorreu o motivo de estarem ali, em pé, no frio de fim de tarde de
inverno. Percorri com o olhar aquelas pessoas, na maioria idosos, modestamente
vestidos. Até que vi o sujeito, sentado num banco alto tosco com as costas
apoiadas à parede do botequim. Tinha à frente um caderno desbeiçado onde
anotava o que as pessoas diziam e a seguir lhes estendia um papelucho que era
imediata e cuidadosamente guardado na bolsa ou na carteira.
Me
surpreendi! Claro! Achava que era uma espécie extinta. Mas não, aí
estava ele: um cambista de jogo do bicho! Certamente era um espécime
sobrevivente, ainda que em vias de extinção, mas ali estava para alimentar as
esperanças dos mais humildes.
Era
tão comum nas ruas de São Paulo há meio século. Curiosa, cheguei mais perto
para ouvir as apostas.
̶ Ponha aí um
real no gato, pediu a velha senhora. Sonhei com meu falecido bichano.
̶ Pois eu, sempre aposto no pavão e na borboleta. Tem que manter a
aposta; um dia sai, retrucou o colega de fila.
Pois
é! O jogo do bicho sobrevive. Ainda é a mais barata forma de tentar a
sorte. O prêmio pode não ser grande mas, dizem os entendidos, sempre será pago!
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