AMOR
PLATÔNICO
SÉRGIO DALLA
VECCHIA
— Eta marzão! – Exclamou
a moça do interior de São Paulo com os braços abertos.
Maria
nunca tinha visto tanta água. Os olhos azuis, da mesma cor do mar, corriam de
um lado para o outro como se quisessem encontrar o fim daquele cenário mágico.
A sua frente o mar sendo engolido pelo horizonte. A sua direita, uma imensidão
de areia, mais branca que a alvura dos panos de prato que lavava. A sua
esquerda, logo adiante estavam as rochas, imponentes, que brotavam da areia. Perplexa com tamanha beleza, girou o corpo em
meia volta e deparou-se com a Mata Atlântica. Sentiu-se mais em casa, pois mata
já conhecia.
Era uma moça clara,
loira, muito bonita, brejeira e muito a aprender. Tinha apenas dezenove anos e
um sobrenome italiano responsável pela sua genética europeia.
Veio para o litoral
por ironia do destino. Nunca tinha visto o mar pessoalmente, apenas em vídeos e
fotos. Seu tio, agricultor a trouxe para passar uns dias nessa praia do litoral
do Rio de Janeiro, onde a água de tão limpa, refletia o fundo na superfície,
ora azul, ora verde.
Maria foi se
adaptando no local e ia à praia todos os dias. Já não era branca e sim uma
belíssima loira do corpo dourado.
Sua beleza ficou
conhecida entre os rapazes e as cantadas eram constantes. Seu ego agradecia a
cada dia.
Certo dia de volta
pela trilha que ligava a praia a rua, pressentiu que alguém a seguia. Olhava
para os lados e via alguns galhos em movimento. Seu coração disparou, a
respiração ficou forte e arrepiou-se de medo. Chamou pelo nome alguns rapazes
que havia conhecido, e nada! O silêncio do medo imperava! Apertou o passo, mas
faltavam uns cem metros de trilha. Alguém a seguia agora de mais perto, o
ataque era iminente e ZAZ! Saltou sobre ela um homem totalmente alucinado,
abraçou-a com violência, enquanto tapava a boca com a outra mão. Ela lutava com
todas as forças para se livrar, mas em vão, ele a dominava. A luta continuou
até que Maria, exausta sucumbiu ao agressor.
Era quase noite, quando
acordou com a voz do tio chamando:
— Maria, Maria,
você está por aí?
— Sim tio, estou
aqui.
A cena era
chocante. Ela estava nua com o corpo todo machucado, partes do biquíni e a
canga estavam espalhados em volta do local.
Foi levada para a
Delegacia e para o Pronto Socorro Municipal.
Já atendida e em
repouso no leito, procurava entender o porquê de tamanha maldade. O ódio e asco
inundavam sua mente. A ânsia de vômito era automática! Ela remoía, pegava no
sono e acordava aos gritos.
Assim foi se
restabelecendo e queria vingança! Mas como?
Não viu o tarado, esteve o tempo todo de costas. Não ouviu nem uma
palavra.
Entretanto notou a
falta da pulseira que sempre usava. Com muita coragem voltou ao local do crime
e achou a dita pulseira suja de sangue em um arbusto.
Era a pista que
faltava. Agora havia o sangue do agressor e consequentemente o DNA.
A Polícia colheu
amostras de todas as pessoas que estiveram com Maria nos últimos dias.
Tio e sobrinha
foram liberados para voltarem para o interior, onde aguardariam o resultado do
DNA.
O ódio de Maria
crescia sem parar. Queria vingança. Foi sempre corajosa e nunca deixou de
encarar os problemas de frente. Era uma brava guerreira ferida profundamente em
seus brios!
Chegou o dia! Ela
foi chamada para receber o resultado dos exames.
Um amigo de
infância muito querido se propôs a acompanha-la.
Maria não via a
hora de saber quem foi o desgraçado. Vingança, justiça era só no que pensava!
O delegado logo
perguntou:
— Qual é a relação
de intimidade entre você e seu tio?
A pergunta caiu
como uma bomba! “Por que? ´- pensou ela.
Simultaneamente, vieram a sua mente alguns flashes em que ele
passou a mão em suas pernas dizendo que foi sem querer e ao mesmo tempo a
elogiava com uma fisionomia intrigante.
Uma vez, quando
tomava banho ele entrou no banheiro com uma desculpa esfarrapada e olhou seu
corpo nu com uma cara muito estranha.
— Será? - Pensou
ela.
O delegado foi
enfático:
— Foi ele, os
exames não falham! Vou expedir um mandado de prisão imediatamente. Desculpe-me
pela verdade, mas o perigo a nossa volta e mais comum do que podemos imaginar.
Maria desabou de
tanto desgosto e o amigo que a acompanhava ficou inconformado e possesso de
raiva. Na sua cabeça Maria seria sua desde pequena!
Voltaram perplexos para
o interior de São Paulo. Maria tinha que esperar. Não se conformava com isso.
Alguns dias depois,
a campainha toca, é seu amigo. Ela abre a porta e ouve dele: “A justiça foi feita, veja nos jornais de
amanhã”...
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