OS
RELACIONAMENTOS DE OUTRORA
Ledice
Pereira
Quando Carlos conheceu Amélia, em 1933, ela era muito jovem.
Ele, dez anos mais velho, morava numa pensão em frente à casa dela, no bairro
de Sta. Cecília, em São Paulo, de onde podia observá-la o tempo todo sem que ela
sequer desconfiasse.
Em seu íntimo ele imaginava-se a namorá-la.
Ela, entretanto, estava naquela fase adolescente, um pouco
de menina, um pouco de mulher. Tinha apenas catorze anos.
Quando ela completou dezesseis anos, ele criou coragem e
mandou-lhe uma longa carta em papel almaço, pedindo-lhe permissão para
namorá-la.
Assim começou aquela história de amor. Casaram-se em 1938 na
Igreja da Consolação.
Amélia, que a princípio mostrava-se tímida, com a idade
começou a deixar transparecer sua personalidade nada acomodada.
Como não tivessem filhos, contrariando pais, cinco irmãos e
o próprio marido, em 1943 aceitou o convite do cunhado para trabalhar na
Secretaria de Estatística do Estado de São Paulo. Passou a ser funcionária
pública, em meio período, o que lhe permitia continuar a cuidar dos afazeres
domésticos.
Todos os dias, depois de arrumar a casa e deixar pronta a
refeição, Amélia tomava o ônibus em Vila Pompeia, onde residia, em direção à
Rua Xavier de Toledo. Descia num ponto bem em frente à Light, dirigindo-se à
repartição, como dizia.
Não raro, dava uma olhada nas novidades da então casa Anglo
Brasileira, depois Mappin, e quase sempre não resistia a fazer alguma compra de
objetos que julgava necessário.
Às vezes, o marido, já então conformado com a atividade da
mulher, ia encontrá-la para assistirem a algum concerto no Teatro Municipal.
Outras, saíam andando pela Barão de Itapetininga, cujas
lojas de bom gosto expunham costumes ou vestidos para a próxima estação.
Amélia era elegante, mas simples. Estava sempre de “tailleur” bem cortado e com seu
chapeuzinho discreto. Ele sempre impecável, de terno, gravata e sapatos
engraxados. Formavam um belo casal.
Em janeiro de 1945, tiveram uma filha que lhes trouxe grande
alegria e Amélia organizou-se para continuar trabalhando.
Essa vivência por trabalhar numa época em que as mulheres,
em geral, se limitavam a ser donas de casa e mães, permitiu que ela
transmitisse à filha, uma visão bastante ampla da vida, ensinando-a a ser
independente e responsável.
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