A descoberta de Laura e
Jonas
Oswaldo
Romano
Laura e Jonas, moradores na cidade por força do trabalho,
gostavam muito da vida do campo. Com
suas bicicletas, embrenhavam-se pelas campinas alcançando montanhas onde nas
suas fraldas paravam para o descanso.
Foi por essas bandas que passados alguns anos construíram
uma casa, autorizados pelos tios da Laura, donos daquela imensa fazenda.
As novidades eram muito além das que previam. Os segredos da
mata se revelavam cada vez mais surpreendentes. Alguns animais nativos, mesmo
de dia, desciam até a relva à caça de alimentos rasteiros. Os mais comuns eram
os lagartos.
Se assim agiam, imaginavam o que acontecia a noite enquanto
dormiam.
Resolveram ficar ligados. Qualquer mudança dos inúmeros sons
do campo dominado pelos grilos, sapos, rãs, e roedores os preferidos das
silenciosas corujas, punha-os de sobreavisos.
Laura corria olhar pela fresta da janela sempre que lhe
parecia um som diferente. Apreciava aquela movimentação que se concentrava em
volta da enorme bacia com água, colocada sobre pequena prancha apoiada em
rústicos pés. A água o casal renovava todos os dias.
Laura observava os delicados atritos na disputa do uso. A
debandada acontecia quando se aproximava um animal mais forte.
Uma pequena árvore bem encostada na casa, era vista pela
fresta da janela. Num voo rasante, uma coruja pousou. Laura só viu o galho se
mexer. Estava tão perto e admirada, disse ao marido:
— Estranho, Jô! Uma coruja sentou quase na minha cabeça e
nem ouvi seu voo?!
— Amor, aprenda. A coruja tem duas armas para surpreender
suas presas: a primeira é chegar silenciosamente planando e a segunda é coisa
da natureza, as penas nos extremos das asas são delicadas, tão finas que não
produzem o ruído marcante dos voos. Aterrissa silenciosamente cravando as unhas
na presa.
— Agora, vamos descansar Laura, você é que está ficando
presa nessa janela. Aos poucos, tudo vai nos parecer normal.
— Meu Deus Jonas! Isso é normal? Veja quem bebe água. É um
lobo! Não! Ele virou-se! É uma loba. Loba !?
— Laura, acorde. Aqui não tem lobo. Santo Dio!!
— Com cara de gente.
Nossa! Cara de menina! É a menina loba!
— Laura, pare! Já está sonhando? Venha dormir. Venha dormir
Laura.
Jonas levantou-se já irritado, achando que a mulher via
fantasmas. A ideia era levá-la pra cama.
— Cacilda! Santo Dio! Desculpe, você tem razão. O que é
isso?! Não é história! Existe mesmo!
Jonas tinha o coração
alvoroçado naquele momento. Os olhos
curiosos não saiam da imagem lá de fora. Há muito ouvira a história de uma
menina que habitava a floresta. Uma pobre criança que jamais foi encontrada e
que tinha sido dada por morta. Só pode ser
essa, e eu que sempre pensei que essa história era uma lenda sem nenhum
fundamento.
— Temos que nos aproximar.
— Como? De que jeito?
— Armadilhas silenciosas - chutou Jonas - é o que precisamos. Vamos pegá-la. Todas as
noites, vamos inventar uma. Ela vai chegando, chegando. Aos poucos vamos nos
mostrando.
— Ela é estranha.
— Bem, o estranho também é bonito.
— E agora?
— De modo pensado e não chutado, vamos inovando o modo de
aproximação. Ela vai chegando, e nós procuraremos alimentá-la. Vai ser difícil
alguém acreditar nessa história!
Cercaremos a casa com
tela, deixando uma grande abertura do lado da mata. Ela vai chegar e nós sem
assustá-la vamos conquistando-a.
— Como, de que jeito?
— Pela boca.
— Credo Jonas! Não é
peixe!
— Com comida, boba! Com
comida.
Acredite Laura. Tenho fé,
vamos ter sucesso! Precisamos absoluto sigilo. Ninguém deve saber. Ninguém
mesmo! Uns vão nos chamar de loucos, outros vão encher aqui nosso espaço.
— Claro!!!! Será que é uma família?
— Aos poucos vamos saber. Agora que ela se foi, vamos também
tentar dormir. Sei que não vai ser fácil.
—Jonas, tem certeza de que estou acordada?
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