QUELI,
A MENINA LOBA
Ledice
Pereira
Queli era uma menina loba quando foi resgatada da mata em que vivia.
Ali, onde hoje está situada Nova Delhi, Capital da Índia, existia uma
floresta chamada Khandava.
A expedição Heróis Pandavas a encontrou quando teve de limpar a área
para construir a capital.
Era uma criatura assustada, cheia de pelos, que pulava de galho em
galho, procurando fugir dos desbravadores.
Emitia sons desconexos e andava apoiada nos quatro membros, o que a
obrigava a permanecer arcada.
Eles não sabiam do que se tratava e a chamaram de Queli, que significava
habitante do bosque.
A pele escura e a estatura a distinguiam dos lobos. Na cabeça um amontoado de cabelos embaraçados
que de tão longos cobriam-lhe os olhos, o nariz, as orelhas e até a boca.
Tiveram que prendê-la para transportá-la dali para o hospital mais
próximo.
Lá, os médicos e enfermeiros conseguiram, a duras penas, fazê-la beber
um chá tranquilizante para poderem limpá-la, cortar-lhe os cabelos, e as unhas,
que davam voltas em suas mãos e pés.
Foi quando descobriram tratar-se de um ser com características humanas.
Teria aproximadamente oito anos e, ao acordar e se perceber presa àquele
lugar estranho, começou a grunhir desesperadamente, tentando desprender-se das
fitas e ataduras que a continham. Exibia
uma força descomunal para aquela aparente idade.
Foram várias as tentativas de domesticar a garota. Em vão.
Não se acostumou à vida que tentavam lhe aplicar. Foram incontáveis as
vezes que tentou fugir.
Numa delas foi atropelada por um automóvel que passava em alta
velocidade. Ela não resistiu aos ferimentos.
O corpo serviu de estudos aos médicos ali residentes, que concluíram
que ela não resistiria mesmo aos anos, tal a quantidade de vermes e indícios de
doenças e tumores que se alastravam, principalmente, em seu aparelho digestivo.
Muitos custaram a esquecer daquele bichinho em forma humana com que
tiveram que conviver por um tempo e que, muitas vezes, povoaram os seus sonhos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário