Graciliano ramos
Prefeitura de Palmeira dos Índios, 1929.
"Prefeito não tem pai"
- Prefeito, prefeito... Seu Sebastião...
- Quem?
- Seu Sebastião. Ele...
- Que Sebastião, Paulo?
- O seu pai, Seu Sebastião.
- Hômi, fala logo. O que tem ele? - o tempo inteiro o prefeito não havia desgrudado os olhos dos papeis com vários números que rabiscava. Pegara a prefeitura com poucos recursos.
- Ele não quer deixar que os fiscais apreendam os bicho que tão na rua. Disse que era um absurdo, por ser pai do prefeito.
O prefeito levanta a cabeça, olha rapidamente para o chefe da fiscalização e fala:
- Apreenda os bichos e o multe por descumprir a norma.
- Mas.
- Apreenda!
Horas depois, o prefeito Graciliano Ramos encontra o pai, ainda furioso com a multa a ser paga e com os porcos e cães que haviam sido apreendidos na rua. A resposta veio curta e grossa:
- Prefeito não tem pai. Eu posso pagar sua multa. Mas terei que apreender seus animais toda vez que o senhor os deixar na rua.
(O desacato à ordem de não manter os animais nas ruas de Palmeira dos Índios por parte de Sebastião Ramos de Oliveira, pai do escritor Graciliano Ramos, está relatado na biografia O velho Graça: Uma Biografia de Graciliano Ramos, de autoria de Dênis de Moraes. A frase está descrita no livro, a situação que a antecede é pura suposição deste que vos escreve).
(http://terrainteressados.blogspot.com.br)
O então governador Álvaro Paes, impressionado com os dois relatórios de prestação de contas de sua administração (1929 e 1930), como prefeito de Palmeira dos Índios, convida Graciliano Ramos para dirigir a Imprensa Oficial do Estado. Os relatórios, escritos de forma impecável e em linguagem literária, depois ficaram famosos e integram o corpo do livro Viventes das Alagoas.
... No tempo em que Graciliano Ramos dirigia a Imprensa Oficial, Aurélio Buarque de Holanda era o revisor de textos, e moravam na capital o romancista paraibano José Lins do Rego, a cearense Raquel de Queiroz.
Jorge de Lima atendia em sua clínica médica e já acendia seus lampiões em versos sobre paisagens alagoanas. E a turma avançava com Théo Brandão, Manuel Diegues Júnior, Raul Lima, Carlos Paurílio, Alberto Passos Guimarães, Valdemar Cavalcanti, Aluísio Branco, Cipriano Jucá, alguns deles com passagens pela Imprensa Oficial.
A gestão de Graciliano na Imprensa Oficial do Estado é rápida. Ele assume em 31 de maio de 1930, e fica até 26 de dezembro de 1931.
Nessa época convocou todos os funcionários fantasmas da Imprensa Oficial, o que muito os assustou.
Depois de Dezembro de 1931, desgostoso com a vida de burocrata da imprensa, ele volta para Palmeira dos Índios, onde escreve os primeiros capítulos de São Bernardo, entre cafés, cachaças e cigarros, na sacristia da Igreja Matriz.
Mas é convidado pelo interventor do Estado de Alagoas, capitão Afonso de Carvalho (nomeado pelo presidente Getúlio Vargas), a assumir a direção da Instrução Pública, hoje seria um secretário estadual de Educação.
Desempregado, Graciliano aceita o convite e deixa definitivamente Palmeira dos Índios para morar em Maceió. Como responsável pela educação no Estado faz visitas surpresas às escolas e sabatina professores, cria a merenda escolar na rede pública.
No livro biográfico O velho Graça, de Dênis de Moraes, há uma passagem onde ele descreve uma das tantas visitas sorrateiras que Graciliano fazia às escolas. E nesta, vendo que não havia alunos, quis saber o motivo. A diretora, embaraçada, disse que não a regra não permite alunos descalços e sem uniformes. Graciliano comprou sapatos e ordenou que as professoras fossem de casa em casa avisando que agora as crianças já podiam ir às aulas.
Era avesso à grandes gastos e preferia que se reformassem as escolas, em vez de construir novas.
Em 1936, três anos após sua posse na Educação do Estado, é demitido e preso, acusado de subversão, em sua casa na rua da Caridade, no bairro da Pajuçara, onde escrevia Angústia.
(postagem baseada no texto de http://www.cadaminuto.com.br)
VEJA AQUI DOCUMENTÁRIO DA VIDA DE GRACILIANO RAMOS:
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