A MENINA LOBA
SÉRGIO
DALLA VECCHIA
Havia
ao norte dos Estados Unidos uma aldeia de índios.
Viviam
muito bem da caça e da pesca. Búfalos e salmões eram os alimentos mais
cobiçados pela tribo.
Dentre
eles havia um casal com uma linda indiazinha de oito meses de idade.
Certo
dia a paz na aldeia foi quebrada pelo ataque inesperado de uma divisão da
cavalaria do exército americano.
Sem
dó nem piedade arrasaram com toda a tribo! Era uma retaliação a um ataque recente
dos índios a um comboio de posseiros escoltado pelo exército. Todos foram
massacrados e escalpelados!
O
cenário no pátio da aldeia era horrível. Tendas queimadas, corpos inertes espalhados
por todos os lados!
Entretanto
a natureza, como que respeitando os mortos mantinha-se calma e silenciosa!
De
repente o silêncio foi interrompido com a chegada sorrateira de uma alcateia;
orelhas em pé, narinas dilatadas e foram avançando, avançando enquanto tudo
farejavam. O forte cheiro de sangue aguçou ainda mais o apetite dos esfomeados
lobos que ansiosos, uivavam, mordiam um ao outro com a expectativa iminente de
matar a fome.
Não
demorou muito para que eles não distinguissem que tipo de alimento era. O
instinto de sobrevivência exigia carne, e era isso que existia em abundância.
Iniciou-se
o lato banquete! Os corpos foram sendo estraçalhados pelas mordidas profundas
dos animais em êxtase.
A
orgia continuou até que o último lobo estivesse plenamente satisfeito!
A
alcateia estava em paz: os lobos dormiam de barriga para cima e as fêmeas sonolentas
brincavam com os incansáveis filhotes. O relaxamento era total.
Em
meio ao silêncio, ouviu-se um choro de criança!
A
primeira a erguer as orelhas foi a fêmea alfa, desvencilhou-se dos seus dois
filhotes e partiu em direção ao estranho som!
Foi
chegando, farejando, as orelhas em atenção até que deparou com a indiazinha
toda suja de cinzas chorando sem parar!
Estacou!
A indefesa criança ao sentir a presença da loba estendeu os braços num gesto de
socorro, como se ela fosse a sua salvação!
Tal
atitude atingiu a loba, que logo percebeu que se tratava de um filhote em
apuros.
Assim
entendeu foi-se ajeitando ao lado da indiazinha até que uma de suas tetas
encostasse na boca da pequena.
Foi
o suficiente para que a menina a sugasse com grande apetite.
A
fome foi saciando, a barriguinha enchendo e lá veio o sono profundo.
Os
dois filhotes da loba também foram se aproximando e logo se aninharam, cada um
com sua teta preferida e todos dormiram tranquilos em família.
O
tempo passou e a menina era uma perfeita loba, no modo de agir, pensar e se
comunicar. Aprendeu a comer carne crua, a caçar, a morder ferozmente e foi
aceita carinhosamente pelos lobos.
Assim
como a estória real das irmãs Amala e Kamala, que foram encontradas em 1920 na
Índia vivendo no meio de uma família de lobos e que não tinham nada de humanos,
andavam de quatro e apoiavam-se sobre os joelhos e cotovelos. Uma delas viveu
cerca de dois anos e meio e a outra até os nove.
Assim,
não ouso prever quando a menina-loba ira morrer, mas afirmo que se for pelo
amor da mãe loba e da alcateia ela viverá muito!
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