EL
MATADOR
M. Luiza de Camargo Malina
Eh! Às vezes a vida assusta.
Elizabeth prestes a preparar
a casa para o Natal, esta à procura de um jardineiro de confiança.
Indicaram-lhe a Praça da
Cruz, no centro da cidade. “Por lá muitos
homens que jogam damas, palitinhos e outros entretenimentos que a prefeitura
local oferece”.
— Lá só têm vagabundos! - retrucou um tanto desconfiada.
— Que nada! A senhora vai
encontrar os melhores para o seu serviço.
Em dúvida lá se foi
Elizabeth a escolher um mais capacitado. Conversa vai, pergunta daqui e dali,
assim escolheu “o melhor”.
— Olhe - iniciou o discurso olhando firme nos olhos que não a encara,
numa análise rápida, pensa com seus botões: ele me parece triste ou é tímido,
deve estar sem dinheiro, com fome, não deve ter onde dormir... Desempregado,
sim é isso, mas é truculento – e continuou - vou lhe
contratar porque o senhor me passou boas impressões. É um trabalho rápido, embora
seja grande e, além de pagar bem, a comida está inclusa.
— Para quando é o serviço?
— Para depois de amanhã. Está bem para o senhor?
— Sim, é
o tempo que tenho para me preparar – respondeu cabisbaixo, inquieto.
— Apanho o senhor na sua casa ou aqui na praça?
— Não... É melhor na praça, às sete da manhã.
— Por favor, traga uma troca de roupa, o trabalho é fora da cidade.
— Não entendi, a senhora vai junto? - Pergunta, afastando a cabeça
para o lado contrário.
— Sim, quero ver se tudo vai dar certo, gosto de acompanhar, pois tenho
mais trabalhinhos. Está aqui meu cartão, qualquer imprevisto telefone.
Pegou o cartão. Com a mão
estirada, lançou um olhar rápido, duro, silencioso.
Elizabeth percebeu algo.
Apressou o passo se questionando: Por que dei meu endereço para ele? E se ele
vai me chantagear, não sei o dele, o olhar me gelou, que horrível, um olhar de
lado sem levantar a cabeça, estou arrepiada, que é isso, e se ele for um ex-presidiário?
Nunca gostei destes homens na praça... assobiam, falam gracinhas... fumam uns o
cigarro do outro, escarram, sempre encostados nas árvores... Ái! Estou
aflita... tomara que ele cancele o trabalho...estou chegando em casa, ainda
bem... ótimo ... sinto-me suja...nem perguntei o nome dele. Que coisa, ele não
me sai cabeça. Vou tomar um banho.
Trimmmmm ...
— Ah bem agora! - resmungou - Alô quem
é?
- Sou eu dona.
- Eu quem?
— O homem que a senhora contratou para o trabalhinho agora há pouco. Já
esqueceu?
— Ah! Sim, diga.
— Eu olhei seu endereço, acho melhor dormir na sua casa, não fica longe
da praça e depois é melhor, a gente não perde tempo.
— Escute, acho que o senhor não entendeu, não é para hoje, é para depois
de amanhã. Além do mais na minha casa não tem espaço para o senhor dormir.
— Como não dona, eu já estou bem na frente. Eu acho melhor a senhora
abrir logo essa porta.
Elizabeth bateu o telefone
enfurecida. Meio instante e, outro trimmmm...
— ALÔ, o que você quer? Não tem mais nenhum trabalhinho...
— Alô... alô... tia! Sou eu sua sobrinha, o que houve? Não entendi,
brigou com alguma faxineira?
— Não, não é outra encrenca que me meti, desculpe – aliviada suspira.
— Tia vou passar por aí para irmos ao cinema. Vamos? Tenho dois
ingressos.
Si – lên – ci – o.
— Alô
tia, tia, tá aí ainda? Tiaaa!
— Sim querida, não, não venha aqui não. Não posso, desculpe, vou entrar
no banho agora. Beijos, depois te ligo.
Desliga e em seguida... Trimmmmm.
Meu Deus do céu, que
pressão o que é q ele quer agora. Estou atordoada. Paranoica... vou falar que
meu marido está chegando... mas não tenho... vou dizer que pago uma pensão para
ele... Deus! Quem será o cara... por que fui parar naquela praça...
— ALÔ!
— Desculpe senhora meu jeito, mas a senhora então pode abrir a porta para
guardar a coroa de flores que comprei?
— Coroa de flores? Para que? Eu não pedi nada...
(Vishhh... o cara é
louco! E se ele entrar a força... vou dar um jeito de fugir... ligar para a
polícia... o que faço... e se ele tentar entrar aqui... e se os vizinhos estão
olhando... o que vão pensar da coroa de flores... que enroscada).
— Ô dona, a senhora ainda tá aí. Abre a porta é só o que peço, já tem
gente aqui me olhando.
Espia e vê a vizinha
conversando com a outra, gesticulando e olhando para sua casa.
Entra em pânico.
Se abro, ele entra. Ou
abro e puxo a coroa, bato a porta e tudo bem...não é melhor dar um dinheiro antes
a ele. Se abro e ele coloca o pé no vão
da porta, eu não consigo mais fechar, e se ele é um assaltante... bem, as
vizinhas estão olhando, vou dar um sinal para elas ... quem sabe.
DINDON.
Agora a campainha, minha
nossa! - descontrolada abre a porta
gritando:
— Senhor! Eu já disse... Que
susto, quem são vocês?
— Somos policiais à paisana. Vimos a senhora tratando com o moço aí e o
seguimos, estávamos certos. A senhora pode nos acompanhar à delegacia.
— Delegacia? Por que, não fiz nada. Apenas o contratei para um
servicinho.
— Éh! É assim que ele age. Pega o endereço e ao invés de fazer o
“trabalhinho” contratado ele já leva a coroa, rouba, estupra e mata o cliente.
A senhora seria a próxima vítima.
— EU!
— Sim, mas nos acompanhe porque queremos saber quem é que seria a sua
vítima.
— Minha? Mas não tem.
— Para que a senhora o contratou?
— Para limpar o jardim, mais nada.