Ocorrido, que não foi esquecido
Fernando
Braga
Romano
era um jovem, estudante de faculdade e tinha uma Bel-air 51, verde. Combinou
com um amigo para passar os dias carnavalesco em sua cidade natal, no interior
paulista. Era quinta -feira e saíram pela via Anhanguera no início da tarde. Após
Campinas, a estrada era de terra, com pista única, e no caminho, o amigo Jorge
perguntou:- você não quer dar uma paradinha em São Carlos?
-Tenho
uma tia, irmã e minha mãe e meu tio, que aí moram e faz tempo que não os vejo. Podíamos
filar uma boia, dormir em um hotel e amanhã cedo prosseguir! O tempo estava
chuvoso, ia escurecer, e Romano achou a ideia boa.
Ao
ver Jorge, sua tia Alice, demonstrou uma satisfação enorme, dizendo:
-que
maravilha vocês aqui, vamos entrar para ver seu tio. A recepção foi realmente
muito calorosa e sincera.
:-
Temos muito o que conversar, pois faz muito tempo que não nos vemos. Logo foram
convidados para ficarem para o jantar e por que não, dormirem lá, quando havia
um quarto vago, com duas camas, reservado para estas ocasiões tão especiais. Trocaram
olhares e logo, aceitaram a boa ideia. Deram um tapa em duas Antárticas, estupidamente
geladas e logo após, sentaram-se à mesa, com uma fome leonina. O apetite e a
salivação, vieram à tona pelo cheiro da comida.
Eis que surge dona Alice, carregando uma
travessa de macarronada, seguida por sua empregada Vilma, trazendo a carne de
panela. Parece até que tinham adivinhado a chegada deles.
Mas,
o que, realmente, mais impressionou não foi o excelente jantar, foi Vilma. Morena
faceira, linda, cabelos negros, olhos amendoados e corpo de manequim. Romano não
conseguia tirar os olhos dela e todos perceberam. Ela, por sua vez, olhava de
esguelha, com um leve sorriso cativante e maroto. Foram para a sala de visita para
o cafezinho, e logo Romano aproveitou para ir até o banheiro e para dar uma
escapada até a cozinha. Falou gentilmente com Vilma e a convidou-a para irem ao
cinema, ou para darem uma voltinha. Ela respondeu:
-
eu aceito, mas apenas com a autorização de dona Elisa! Eu moro aqui e só saio
com permissão dela.
Esperou um momento mais propício, se aproximou
e pediu:
-a
senhora se importa se eu e Vilma dermos uma voltinha? Afinal de contas é
carnaval! Ela autorizou.
Enquanto
Jorge ficava com seus tios, matando a saudade, saíram de carro, música suave e
logo pararam para o primeiro beijo.Com o tempo chuvoso, preferiram permanecer
no interior do carro em um local ermo! Naquela época não havia perigo. Muita
afeição, muito carinho e retornaram após umas 3 horas. Na manhã seguinte saíram
cedo, em direção ao objetivo.
Uns
três meses após, Romano recebeu um telefonema de Vilma, que dizia ter vindo
para São Paulo passar uns dias, em casa de sua tia. Saíram várias vezes, ela se
aproveitando dele e ele dela! Perderam o contato um do outro, não saberem
definir o porquê. O tempo passou, Romano se casou, vieram os filhos, viajou
estagiar fora e continuou a exercer com afinco minha profissão.
Decorridos uns vinte anos, estava em seu
consultório quando entrou a secretária dizendo:
-
doutor, está aí uma moça, que diz lhe conhecer e que gostaria de revê-lo.
-Quem
será, perguntou ele, não disse o nome?
-Perguntei
a ela, mas disse querer fazer uma surpresa.
-Mande-a
entrar, disse ele.
Entrou
uma bela senhora, de uns 40 anos, muito bonita, bem cuidada, em um charmoso
vestido de seda, discretamente colorido, perfumada e após lhe dar um longo
abraço, perguntou:- lembras-te de mim, eu sou a Vilma, que você conheceu há cerca
de 20 anos. Ficou olhando-a por alguns instantes e disse:
-
Que prazer em revê-la Vilma, como você está e continua bonita, que elegância,
que charme. Vamos sentar e me conte de sua vida. Ela começou assim:
-Vim
a este prédio consultar o meu ginecologista, o que faço todo ano e por surpresa,
vi, por coincidência, no quadro da
entrada, o seu nome, nome que sempre guardei com muita afeição, carinho e amor.
-Minha
vida? Vou ser breve. Após alguns anos, decidi vir para São Paulo, onde
encontrei meu marido, um advogado com ótima clientela, que penso, por algum
motivo, se apaixonou por mim. Hoje moro no Morumbi, tenho três filhos, bem
crescidos, carro com chofer e minha vida está, como pedi a Deus. Meu marido é
ótimo, sob todos os pontos de vista, mas confesso que você foi o meu primeiro
amor e nunca o esqueci. Sempre falava de você, mesmo para meu marido, que
tornou-se ciumento. Fiz análise e consegui vencer minha insegurança. Este
encontro me fará um bem indescritível, pois estou encerrando agora, neste
momento, um ciclo da minha vida, do qual nunca me havia me libertado,
completamente.
-Hoje
mesmo, chegando em casa, quero sentar e conversar com meu marido, contar-lhe este
nosso encontro fortuito, dizer quanto
amo a ele e encerrar de vez, esta fase, que agora pertence ao passado! Adeus!
Após um abraço apertado, carinhoso, ela saiu, sem
olhar para trás. Romano confessou que ficou muito contente com esta visita e
muito feliz por rever aquela linda dama, bem vitoriosa.
Chegando
em casa, Romano sentou-se com sua mulher e contou-lhe todo o ocorrido, desde o
início da história. Ela comentou:
-Gostei
e mais uma vez, você demonstrou que me ama! Ela também tinha feito análise!
Vai entender as mulheres!
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