A
cadeira de balanço
Fernando Braga
Zequinha, que na Revolução
de 32, levou um tiro de fuzil nas costas e anos após, ainda jovem, começou a
apresentar sintomas próprios da doença de Parkinson. Tornou-se rígido, marcha
difícil, movimentos lentos e presos, fala baixa, ininteligível, com tremor nas
mãos, principalmente quando ficava em repouso. Foi quando ainda criança, o
conheci. A todos dizia que sua doença fora causada pelo tiro que recebera, para
assim sentir-se como herói da revolução. Na realidade, a causa de sua doença,
certamente, fora a famosa Gripe Espanhola de 1918, da qual conseguira escapar,
mas que dizimara milhões de pessoas, completando a enorme mortandade causada
pela primeira guerra mundial, recentemente terminada.
Morava com sua mãe em um sitio
que pertencera a seu pai, já falecido, em uma casa de madeira, bem construída, sólida
e que possuía na frente uma simpática varanda, da qual a maior parte da pequena
propriedade podia ser vista. Devido à doença, que cada vez mais o incapacitava,
permanecia a maior parte do dia sentado em uma cadeira de balanço antiga, totalmente
de madeira, colocada no canto esquerdo do alpendre. Só saia de lá, com ajuda, para
as principais refeições e para dormir à noite, quando necessitava do maior auxilio
da mãe para deitar-se e acomodar-se na cama, pois naquela posição ficaria até o
dia seguinte, por não poder virar-se sozinho. Muitas e muitas vezes fui com
meus pais visitar dona Iaiá e seu filho Zequinha, e não me lembro de tê-lo
visto sentado em outro lugar. Quando me aproximava, ainda criança, pedia que o
balançasse e que lhe trouxesse que um pedaço de doce, qualquer doce e depois água.
Na realidade era gordo e conservava integra, a vontade de comer. Quando sua mãe
morreu, ninguém quis assumi-lo, devido ao trabalho que dava, tendo sido
colocado em uma casa de repouso em um bairro de São Paulo. Aos 54 anos, teve um
mal súbito e veio a falecer. O sitio ficou para um dos irmãos, que conservou a
casa como estava, com a cadeira do Zequinha no alpendre, e na mesma posição.
Um dia o sitio foi vendido
e trouxeram alguns pertences da casa para a cidade.
Certa ocasião eu, agora já
adulto, fui visitar o irmão de Zequinha e perguntei:
— Onde está aquela cadeira
de antiga balanço, onde ficava sentado o Zequinha?
— Ainda está aqui. Mas,
quebrada, e jogada nos fundos da casa. Não presta mais.
Pedi para vê-la e depois, para
compra-la.
— Se quiser pode leva-la,
retrucou. Só está atrapalhando, está quebrada, repetiu.
Levei-a embora, e ela está
em uma posição de destaque em minha casa, linda e nova, após a reforma feita
por um marceneiro artista.
A visão desta cadeira
alivia um pouco a saudade imensa que sinto de minha vó Iaiá e do meu tio
Zequinha, irmão parkinsoniano, de meu pai.
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