Ocorrido
peculiar
Fernando
Braga
Ele disse que estava
dirigindo seu Passat amarelo, velho, por uma estradinha vicinal, entre dois
vilarejos no oeste de Minas, em noite escura e chuvosa, quando resolveu parar
para observar se no próximo trecho da estrada, com muita lama, daria para
passar. Acendeu os faróis do carro e desceu para melhor observação. Neste
momento, uma luz muito forte iluminou o pedaço e subitamente, surgiu um objeto
voador, com forma arredondada, de uns 15 metros de diâmetro, que desceu a uns
50 metros, à esquerda de seu carro. Naquele momento, disse ter
ficado atônito, com muito medo, arrepiado, pois nunca havia visto nada
semelhante em sua vida. Ficou parado, observando, mas a vontade era de correr,
mas correr para onde?
O estranho aparelho tinha luzes fortes em
volta e logo uma porta grande se abriu, por onde saiu uma escada rolante de uns
5 metros e desceram duas figuras estranhas, uma mistura de gente com inseto, de
um metro de altura, magras, com cabeças grandes para os corpos pequenos, dois
olhos grandes, boca redonda, sem nariz, com uma antena de cada lado da testa. Tinham
dois braços pequenos e mãos grandes, pernas longas. Quando percebeu, as duas criaturas
já estavam diante de si, fazendo um movimento com as mãos para que se
aproximasse e os acompanhasse. Pensou ser uma
nave planetária e eles deveriam ser ETs, tenho que acompanha-los. Entrou na
nave e viu uma sala grande, ocupando todo o espaço e
junto às paredes aparelhos eletrônicos, telas como de televisão, painéis
iluminados, computadores. E sentados, mais quatro destes homúnculos estranhos.
Emitiam som diferente, parecido com o zumbido de uma cigarra e demonstravam se
entender com os movimentos contínuos das antenas. Ficaram me olhando
atentamente, me tocando, e logo percebi
que a nave se elevara e estava voando. Após uns 30 minutos, aterrissaram
novamente, a porta se abriu e fui empurrado para fora. A porta se fechou e logo
a nave desapareceu. Pensei: não devem ter
gostado de mim, nem perguntaram meu nome. Olha, não entendi nada! Será que
procuravam alguém diferente?
Vi-me só em um campo e ao longe havia luzes de
uma cidade grande. Ainda surpreso, comecei a caminhar até a cidade, onde
procurei uma delegacia. Era noite, entrei na delegacia, onde estavam dois
soldados, que ao me verem me perguntaram logo:
— O que você quer?
— Que cidade é esta? é
Montes Claros? retruquei.
— Você está louco, quer
nos gozar? Você está em Belém. E não venha com piadinhas. O que você quer, matou
alguém e veio se entregar?
— Nada disso! - exclamei.
Agora há pouco eu estava em Montes Claros, em Minas. E fui transportado para cá
em uma nave interplanetária. Te juro mesmo!
— Esse cara deve estar
louco! - disseram. Deram alguma coisa para ele comer, beber e fizeram-no sentar
em uma poltrona para descansar, para resolverem tudo no dia seguinte, com o
delegado.
Pela manhã chegou o
delegado e ao ser informado de tudo, perguntou a ele seu endereço e telefone. Deu
o telefone de sua casa em Minas. Telefonaram e a mulher que atendeu, confirmou
ser sua mulher e disse estar preocupada, que ele estava desaparecido há dois
dias. O delegado, que sempre se interessou por OVNIs, após ouvi-lo novamente,
chamou colegas e a mídia. Logo, começou a sair no noticiário do rádio e TV,
jornais, que espalharam a notícia. Quinzinho, tornou-se figura rara, deu entrevistas.
Ficou rapidamente, conhecido. Reconduzido a Minas, o prefeito e o governador mineiros,
após entrevistá-lo, propagaram, que aquele era o primeiro caso concreto, de
alguém, que confirmava a existência de UFO. A notícia tornara-se até
internacional.
Sua mulher e seu médico neurologista, ficaram quietos frente à repercussão
que o caso obtivera. As entrevistas rendiam até uma boa gaita. Na realidade,
eles que conheciam bem o caso de Quinzinho sabiam que ele era portador de uma
epilepsia especial, chamada de automatismo psicomotor ou epilepsia complexa, que
quando ocorre a crise, pode levar o paciente a um estado de perda parcial da
consciência, continua a exercer atividade psicomotora, mas durante toda a
duração da mesma, não guarda lembrança de nada, do que fez, do que falou e
assim por diante. Episódio semelhante havia ocorrido com ele há dois anos, quando
foi parar em Curitiba, mas naquela ocasião nada inventara. Comprara a passagem
aérea, dirigira-se ao aeroporto, tomara o avião, descera na cidade, tudo
automaticamente e aí, quando a crise passou, não sabia onde estava, mas
conscientemente, voltou para casa. Desta vez, ao tomar conhecimento que viera
parar em Belém, inventara toda a história do OVNI, para ganhar notoriedade. Afinal,
epiléptico, não é burro! Seu Passat amarelo continuava em sua garagem!
Esta história é como a do
inglês, que viajara de Londres a Bombaim em um cargueiro, viajem de dois meses,
em estado de automatismo psicomotor.
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