SOBRE FANTASMAS, PERDAS E FELICIDADE!
Carlos Cedano
Helena entra no quarto
e como sempre, tem a sensação de volta ao seu passado de tristes lembranças.
Senta na cama e contempla a foto pendurada na parede a sua frente. É o casamento de meus pais, ela está tão
linda! Exclama em alta voz.
— Sim! - disse Clara, sua amiga “para
todas as estações” — Linda e feliz!
— Pois é minha amiga! A alegria durou pouco, a
vida foi cruel. Eu tinha apenas quatro anos quando um acidente de carro ceifou
a vida de meu pai. Minha mãe o adorava, era sua eterna paixão e de repente,
tudo acaba!
Os olhos de Clara
passeiam e se fixam no vestido de noiva pendurado na porta do quarto. É o vestido de seu casamento! Diz ela
aproximando-se - Que coisa deslumbrante,
nunca o tinha visto tão de perto!
O vestido era uma
esplendorosa criação. O designer conseguiu convergir a qualidade dos tecidos e
materiais em um desenho onde a simplicidade era o melhor atributo de sua
beleza.
— Sim, minha mãe o viu, se encantou e disse
para ela mesma que seria o vestido de seu casamento. E assim foi! E, aos dezoito
anos eu conheci Vicente, namoramos, noivamos e marcamos a data de casamento.
Durante os preparativos mostrei pra ele o vestido.
— E daí? Perguntou Clara com incontida curiosidade.
— Disse-lhe que gostaria de casar com o vestido de minha mãe. Vicente concordou no ato! O restante da
historia você acompanhou, foi nessa época que nasceu nossa amizade, querida
amiga.
— É, e foi duro ver você sofrer a morte prematura de Vicente. Ninguém
podia imaginar um infarto fulminante aos trinta e cinco anos! E sua filha,
Mariana, tinha apenas dois anos! - disse Clara.
Helena guardou silêncio
por alguns minutos. Pensava, e tinha o rosto mostrando uma forte preocupação,
Clara percebeu a situação da amiga:
— O que perturba você Helena?
— Você sabe que Mariana já está formada, ela e Rodrigo estão apaixonados,
bem situados profissionalmente e querem casar em breve?
— E qual é o problema? Indagou Clara.
— O problema é meu! São meus fantasmas sempre presentes que misturam
minhas perdas com minha insegurança! Criei na minha cabeça um temor obsessivo,
que minha historia e a de minha mãe pode repetir-se com minha filha. Isso me
angustia! É irracional, mas me perturba!
Clara não pode deixar
de sorrir e foi logo perguntando:
— Você já falou com Mariana de teus temores?
— Sim! E Mariana também quer casar
com o vestido de minha mãe, o acha maravilhoso e não abre mão disso! Em todo
caso para tranquilizar-me vai falar hoje com Rodrigo. Estou ansiosa por saber
sua reação.
Mais tarde chega
Mariana com a alegria estampada no rosto. Abraça e beija a mãe, beija Clara e
diz:
— Falei com Rodrigo e contei pra ele teus temores, minha mãe.
— O que ele achou?
— Ele me disse — com serenidade e bom humor — primeiro, que seus temores
são seus e somente seus. Segundo, que não tem a menor intenção de deixar-me viúva
cedo e, por último, que vamos envelhecer juntos e ter muitos, muitos netos!
— Só isso? Perguntou Helena.
—Ah! Ele também faz questão que eu use o
vestido de noiva da família que agora será meu! Concluiu Mariana com um
sonoro riso e alegria que irradiava de seu belo rosto.
Passaram-se os anos,
muitos anos, e Mariana casava sua primeira filha com o mesmo vestido. A
tradição somente foi interrompida por que o vestido de noiva já estava puído e
amarelado. Mas, o feitiço, se alguma vez existiu, foi
definitivamente, afastado!
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