FAMÍLIA VENDE TUDO
M.luiza
de C.Mallina
Na
avaliação passada pela peneira de olhos clínicos dos antiquaristas, arquitetos e decoradores, escapa a velha cadeira de
balanço. Tão ou mais velha que o próprio Império.
Silenciosa
adquirira a capacidade da invisibilidade, comum aos idosos. Impecável, graças aos
“demodés” sufocada por grifes, impera solitária num canto qualquer, com a
etiqueta amarelada dependurada.
A
gentil senhorita chega ao encontro de Stela e a pequena Ligia, de 5 anos,
pedindo certo cuidado quanto à criança, devido ao valor das peças.
Stela
mal escuta a orientação. Ligia num zaz-traz está sentada na cadeira de balanço,
cantarolando. Stela a observa em silêncio. Procura por algo.
Percebe
que o movimento da etiqueta da cadeira de balanço completa a volta de um
círculo, em desacordo com o balançar. Foge no tempo.
— Senhora, senhora!... sua filha - alerta a
vendedora.
— Sim, o que há com ela?
— Está lhe chamando.
— O
que foi Ligia? – espanta-se a mãe.
— Mamãe, compre esta cadeira. Ela era minha
quando eu era uma princesa.
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