A LENDA DE JACINTO - Carlos Cedano


A LENDA DE JACINTO
Carlos Cedano

Renato ia de seu sitio até  cidade no  velho e fiel calhambeque. A viagem transcorria tranquila, ouvia música e aproveitava para dar rédea solta aos seus pensamentos e projetos. Um deles era trocar de carro.

O que o deixava um pouco triste é que tinha acabado de vender seu pequeno sitio e esta seria a última viagem nesta estrada vicinal de que tanto gostava, onde, tinha a sensação de que a bela floresta era só pra ele.

Começava anoitecer e a garoa que era fina começa a aumentar já quase chovendo e , esfriando rapidamente.

Subitamente numa curva o carro derrapa e “apaga”. Renato tenta algumas vezes dar partida mais sem sucesso. Pega a lanterna,  levanta o capô, mexe em alguns cabos, examina a bateria, verifica o óleo e tenta novamente dar partida e, nada!

A floresta está muito silenciosa. Ouve-se apenas o leve ruído da chuva, mas tem a sensação de que algo ou alguém o está observando. Acha que é sua imaginação, volta a olhar o motor e logo atrás dele escuta uma voz que lhe-diz:

            — É o carburador!

Renato vira-se e vê um cavalo branco.

            — Sim, é o carburador! - Insiste o cavalo.

O coitado mal tem tempo para reagir e subir no carro que por sorte, desta vez, dá partida!  Acelera levando o velho carro a seu “máximo” sem reparar nos buracos e desníveis da estrada. Poucos minutos após, o que lhe-parecera uma eternidade, Renato chega ao entroncamento com a estrada principal. Enxerga logo um posto de gasolina e pra lá se dirige.

Desce cambaleante do carro, pálido e ofegante, a ponto de desmaiar. O dono do posto o ampara,  e grita:

            — Mãe, traz um copo de agua com açúcar. Tem aqui um cara passando muito mal!

Renato senta num banco, ainda tremendo, e lentamente vai se recuperando do susto.

— O que acontece meu amigo?

Em quanto nosso herói conta o acontecido com cavalo branco, a mãe do proprietário se aproxima oferecendo-lhe o copo de agua com açúcar. Renato começou a beber e aos poucos foi recobrando a cor.

O dono do posto conta pra Renato:

— A historia que circula por aqui é a do velho Jacinto, dono de um cavalo branco que acostumava ajudar as pessoas que tivessem problemas com seus carros. Com ajuda de seu cavalo ele os puxava até o entroncamento onde podiam ser consertados. Ele morreu já faz seis anos.

            — Aparece uma vez por ano, encarnado no seu cavalo branco no dia do aniversario de sua morte - comentou a mãe -  E por falar nisso que dia é hoje?

            — Dez de outubro - respondeu o filho.

            — Pois é! Hoje é o aniversario da morte de seu Jacinto. Isso explica tudo! Diga-me jovem - continuo a velha senhora - o que é que o cavalo falou mesmo pra o senhor?

            — Ele falou somente: É o carburador!

            — Era um cavalo com uma mancha negra na testa? Perguntou a senhora.

            — Sim! Disse Renato ansioso por uma resposta.

            — Ah! Não liga não meu jovem, ele não entende p......  nenhuma de mecânica! 



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