ERAM DUAS MULAS - Oswaldo Romano

 
ERAM DUAS MULAS
Oswaldo Romano                    
                                                         
Cedo Maria mal viu nascer o dia, cuidou-se de levantar e preparar o café do seu marido Chico. Chico pula da cama em seguida, espreguiça-se, veste as surradas roupas da semana, enfia os pés nas  botas.

Teve alguma dificuldade porque além das botas estarem  deformadas, já não tinham as tiras de couro que ajudavam calçá-las. Sente o cheiro do café que o leva à cozinha.

O dia está começando. Sua gleba de terra onde cultiva a mandioca fica distante vinte quilômetros. Fácil porque tem seu antigo Fordinho de caçamba, partida a manivela, carroceria corroída pelo tempo, que o leva.

Quer distrair-se ouvindo os violeiros que cantam e encantam o povo da roça. Mas, o barulho do motor e o bate-latas dos para-lamas carcomidos, forçam-no a dobrar o corpo sobre o volante, ficando assim mais próximo do rádio.

O Fordinho comeu a estrada. Ele chega, a terra esta exalando a umidade da noite e solta a nevoa puxada pelo rei sol, que sobe, não esperando ninguém.
Toma o arado, agora motorizado. Quando puxado pelas mulas rolava melhor a terra, mas elas lhe davam muito trabalho. Eram duas que se revezavam. Ao troca-las, vendo-se livre, a mula sugava vinte litros d’agua, e mascava meio fardo de forragem.

Este fato aconteceu num dia de chuva intermitente. O serviço não rendia. Ele na época, usava as mulas. Estavam mais soltas, mais alegres com o tempo. É difícil saber quando uma mula está contente. Avalia-se por dedução. Com a chuva a terra amolece, fica mais fofo seu arrasto.

Nesse dia, na volta, o tempo ainda não estava firme. Caiu à noite, garoa intensa, a estrada estava barrenta.  O fraco farol do Ford iluminava pouco, estava esmaecido pelos anos. Depois da curva das bananeiras, as poças que eram muitas, refletindo, até ajudavam na iluminação.

Próximo a venda do Firmino, dois homens brigavam, se agarrando. Já se aproximava quando sacaram suas facas, as lâminas brilhavam e, muito estranho, duelavam no meio da estrada vicinal. Apostava que os atropelando, saíssem do caminho. Arriscou. Ainda há uns trinta metros, com marcha moderada, piscou o farol, não deram bola. Continuaram o espetáculo!

Sua decisão tinha que ser tomada rápido. Com a buzina aberta, acelerou o que pode, quase os tocando. Pulou um de cada lado. Pelo retrovisor, viu uma escuridão só.


        Certamente haviam montado uma armadilha para assalta-lo.

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