Voando para Berlim em 1989 - Oswaldo Romano



Voando para Berlim em 1989
Oswaldo Romano                                                              
       
 Corria o ano de 1.989.

        O avião era um Tupolev, vôo comercial, famoso de fabricação Russa. Éramos três casais, orgulhosos passageiros da famosa viagem. Passava pela nossa mente o esforço Americano na fantástica ponte aérea enfrentada para abastecer sua parte de Berlim ocidental no fim do conflito.

        Estava feliz por mais essa aventura quando senti começo de pressão no ouvido. Lembrei de que certa vez um médico “muito amigo” tenista, o lancetou. Alegava resolver um zunido que me incomodava. A partir de então passei a sentir mais desse lado o horror da despressurização de avião.  Em segundos, encolhia-me de dor.

        Eis senão quando, justo no momento que serviam os lanches, entra uma inesperada turbulência, e eu com o ouvido que mal resistia, tive que controlar a dor e o tremor. Um comissário que portava bandejas sobrepostas não conseguiu manter o equilíbrio e as soltou por todos os lados. As nossas, há pouco servidas, foram atiradas pelo chão. O Chico nosso companheiro que sentava à nossa frente com a esposa, soltou a sua bandeja, caindo sobre nós. Ele penava há muito com um permanente cacoete. Eu pálido de medo olhando-o, vi que pulava no assento, balançava muito a cabeça, pondo-me confuso o que era e o que não era normal.
Na terrível queda em vácuo da aeronave, eu seguro pelo resistente cinto, assustei quando vi aquele comissário flutuando, quase grudado no teto,  descontrolado.    
Foi o pior que vi.

A nave mal se estabilizava, e pude ver o Coelho pouco a frente, ao lado da Zica sua mulher,  não sei como, ele já estava em pé. Ele tremia como vara verde e estranhei porque ria de chorar. Ao cruzar nossos olhos apontava para o chão do corredor. Era uma sujeira só. Mostrava apontando o dedo e levantando as sobrancelhas, algo, alguns metros atrás.

        Olhei. Também não me contive.

        No chão estava o comissário escarrapachado, mal sentado, esperava passar o susto. Ou talvez não pudesse se levantar.

        Felizmente o Putolev muito atrasado, chegou ao seu destino – Berlim,  e seu trágico muro. Também, não lembro a que horas meu ouvido se normalizou.

        O povo descontava no que sobrava do muro. Alguns ajoelhados agradeciam, outros o chutavam. Foi quando aceitei a marreta que me ofereceram.

        Dois dias depois, para levantar a mala, senti o braço. Doía, mas não dava para esquecer a marreta.

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