A
PRIMEIRA VEZ DAS MENINAS
Carlos Cedano
Leonor e Roberto ficaram exultantes quando receberam a
noticia que a agencia deles tinha sido selecionada para um concurso de jovens
talentos. Participariam 10 países e os desfiles a serem realizados nas cidades
de Londres, Roma e Paris sucessivamente.
Os patrocinadores representavam uma grande grife
europeia e tinha como exigência que nenhuma das modelos se tivesse apresentado
antes em evento profissional, em contrapartida a agencia receberia as passagens,
as diárias e verba para cobrir despesas diretas e, além disso, a vencedora receberia
como premio um montante considerável de dinheiro. É uma fortuna mesmo falou Roberto!
Vamos caprichar, vamos arrebentar! Concluiu com um enorme sorriso e
transpirando autoconfiança.
Respiraram fundo recuperando-se da emoção, nossa
agencia de modelos tem apenas um ano de vida e já temos participação num evento
internacional! - disse Leonor. Pois é - concordou Roberto - e teremos muito
trabalho e pouco tempo para preparar toda a viagem!
As quinze meninas do elenco tinham trabalhado intensamente.
E Leonor, que tinha sido modelo, era quem as treinava. Roberto, além de ser
arquiteto era administrador e tinha
trabalhado com Leonor em outra agencia durante quatro anos quando decidiram
arriscar criando a deles, parecia ter sido uma boa decisão.
A primeira reunião foi com o estilista Ramón e com Rufino
o maquiador, explicaram o motivo da conversa que, à medida que avançava foi
tornando-se num “tsunami” de criatividade, e não poucas vezes “viajando na
maionese”, Leonor teve que intervir em varias ocasiões para fazê-los “voltar” à
realidade.
Uma das reuniões mais tensas e cansativas foi com as
mães. Neste aspecto a experiência de Leonor foi decisiva, com calma e paciência
respondeu a todas as indagações feitas pelas atribuladas e incisivas mães. Como
a principal preocupação delas era a segurança, física e moral das meninas,
Leonor propôs que três mães acompanhassem a delegação o que elas aceitaram. Como
foi a reunião? Foi um “páreo duro”! Respondeu Leonor para seu sócio.
Entretanto outra tarefa mais dura seria preparar as
meninas para um evento ainda desconhecido pra garotas. Foi novamente Leonor que
assumiu essa tarefa.
Na primeira reunião as meninas escutaram com atenção
os detalhes das apresentações, as reuniões seguintes foram feitas com o emprego
de recursos de comunicação tais como slides e tapes, para conhecer os lugares
dos desfiles e ver suas modelos favoritas desfilando: Essa aí é a Heidi Klum!
Disse uma das meninas. Muito magra e não tem bum-bum! - disse outra provocando uma
risada geral. Logo apareceu Gisele e foram à loucura: Que classe! Que Charme! Eram
os comentários mais ouvidos. Ela tem o carisma contagiante e sedutor que
caracteriza as modelos Top - completou Leonor.
Nos dois meses seguintes o ritmo de trabalho se intensificou,
as meninas acordavam cedo e ensaiavam três ou quatro horas diárias com muita
preocupação nos detalhes. À tarde tinham aulas para melhorar o inglês.
Às noites as garotas aproveitavam para escrever ou
ligar para parentes e namorados, ou bater papo descompromissado entre elas.
Neste período surgiam as crises causadas pela insegurança própria delas ou
falta de ligações dos namorados ou dos pais. Expressões como acho que ele não
gosta mais de mim! Ou vai ver que está com outra! Eram comuns. As colegas
tratavam de consola-las e quando a situação não podia ser contornada a solução
era: deixa pra lá! Amanhã a Leonor
resolve.
Passaram-se os últimos dois meses. Na véspera da
viagem era impressionante a quantidade de malas, pacotes e baús que nesse mesmo
dia foram enviados para o aeroporto em quatro vans.
A primeira apresentação aconteceria dois dias após a
chegada perante um júri composto de personalidades de reconhecido conhecimento
e experiência para julgar o talento das modelos e avaliar a qualidade do design
das roupas, o resto da plateia era composto por pessoas especialmente
convidadas.
Nos momentos que antecederam as apresentações nos dez
camarins era tudo igual: gritaria, reclamações, presa, nervosismo, correria e
muito choro também, ninguém de fora poderia imaginar que dessa “baderna” sairia
alguma coisa boa.
Quando as meninas pisaram na passarela botaram pra
quebrar. Nas suas roupas maravilhosas o ambiente se “iluminou” e no auge do
desfile “apareceu a diferença brasileira” plasmado no rebolar bonito e sutil de
seus corpos que criou um clima no qual o público sentia-se flutuando numa nuvem
de aromas tropicais. A surpresa e admiração apareciam no rosto dos assistentes
e do próprio júri. Arrasamos! - disse Leonor que estava junto às mães que
choravam discretamente de emoção e alegria. Num outro canto, Ramón e Rufino
choravam abraçados sem muita discrição.
Foi assim em Roma e Paris, foi na mesma cidade-luz que
se anunciou o resultado final, o coordenador dos três eventos comunicou ao
público e à imprensa que os três juris foram unanimes em declarar Brasil como
ganhador em todos os desfiles e, por isso, fazia jus ao premio prometido.
Essa mesma noite Leonor falou com Roberto e deu-lhe a
boa noticia. É verdade? Perguntou várias vezes sem saber se estava. Depois o
grupo foi jantar num dos melhores restaurantes da cidade, era a primeira vez
das meninas. Nunca tinham estado num lugar tão chique.
Como premio o grupo ganhou três dias em Paris e uma
semana de férias na Côte d’Azur também com tudo pago pela agencia. Roberto
autorizou - contou Leonor.
Na volta, todos já com muita saudade, foram recebidos
com alegria por parentes e amigos. A imprensa que tinha muitas perguntas a
fazer, estava surpresa com o enorme sucesso do grupo que foi amplamente
divulgado pela imprensa europeia e quase nada pela nacional. Aos poucos as
pessoas do grupo se dispersaram marcando a volta ao serviço na segunda feira.
Leonor fez um esforço e foi até o escritório junto com
Roberto. Senta Leonor - disse ele - você parece muito cansada! Sim respondeu
ela, mais pelo seu olhar e sorriso parece que você tem alguma novidade? Sim, os
patrocinadores nos querem como representantes exclusivos na seleção de modelos
brasileiras e contratar já algumas das meninas do grupo. Que bom Roberto!
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