Desnorteada
Vera Lambiasi
Luzia caminhava na larga calçada da avenida Paulista, alheia
à alternância de freadas e aceleradas.
Par de pés aproximavam-se, e ultrapassavam sua silhueta
cambaleante.
Aglomerados de carros e pessoas não se davam conta de suas
preocupações.
Seguia rumo ao Banco onde pegaria suas joias.
Não as via há 20 anos, desde a morte do marido.
O cofre forte fora cancelado e tudo deveria ser retirado.
Era o último dia, não havia saída.
Resolvera ir à pé, para pensar onde colocá-las.
Engraçava-se com a vida, quando poderia andar sossegada na
ida, e tensa na volta.
Sentia-se livre, nada expondo.
E depois? Carregaria na bolsa? Tomaria um taxi? Esconderia
no armário? Mostraria aos filhos? Repartiria? Ou ostentaria, como faziam as
amigas?
A cabeça saltitava, os pés fincaram o chão.
Estava inerte.
Acudida por uma policial, soltou seu drama.
Seus filhos foram chamados.
Chegaram com seus motoristas, carros blindados e seguranças
armados.
Luzia, aturdida, ainda não havia contado nada sobre as joias
aos familiares.
Dirigiram-se ao Banco, e tudo resolveram.
A velha senhora continuaria sem ver suas riquezas.
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