O VOO TOQUE DE MIDAS - M.luiza de C.Malina



O VOO TOQUE DE MIDAS
M.luiza de C.Malina

A mudança nas delicadas e elegantes feições dos passageiros da primeira classe, misturava-se ao incessante toque nos botões cravados na angustia pelo auxílio da salvadora Comissária.  A finesse do sofrimento, assemelhava-se a uma sala de velório, acompanhada do sonido de um réquiem elaborado em agudas notas musicais, acompanhando os tons da aeronave, que, repentinamente subia e descia.

Na categoria do voo comercial, o descontrole da pressurização era percebido pelos mil bocejos do leão da MetroGoldwynMeyer e, no  mascar de chicletes. Os pobres botões de chamados à Comissária já haviam há tempos embaralhados e travados  no desespero dos viajantes que, os manuseavam ao toque de Midas que jamais chegaria.

Apertados no horror, não atentavam ao aviso de apertar cintos. Apenas a Comissária seguia ordens rígidas, grudada em sua minúscula poltrona, com os protetores de ouvidos sufocando a audição dos altos e baixos palavrões dos passageiros que se mesclavam aos que rezavam e outros ruídos provenientes da seção “estripa micos”. 

Puxavam o pequeno saco de emergência, que mais vomitava o material recebido do que ajudava o passageiro,  de bocas gigantescas recheadas de material amarelado, que não era ouro.

O caos instaurara-se.

O Voo Toque de Midas, nunca vira nada parecido. Deliciava-se surfando nas nuvens, entremeando cambalhotas para espiar o céu azul abaixo das nuvens e num raio voltava acima das mesmas. Foi um dia de tobogã.

Os pilotos gargalhavam, afinal era o Dia do Aviador.


A calma foi instaurada.     

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