A
Cartomante
Vera Lambiasi
As moças passavam as férias em
Santos, quando souberam de uma cartomante, lá para os lados da Biquinha.
Saíram bem cedo, numa quarta-feira,
escondidas de suas mães. Fingindo ir à praia do Gonzaga, esgueiraram-se para o
ponto do ônibus, a fim de tomar o circular até São Vicente.
Camila, a mais nova, preocupava-se :
—
E
se formos seguidas pela Dita? Ela está desconfiada. Perguntou porque vestíamos
shorts por cima do biquíni.
—
Ah,
Camila, ela tem mais o que fazer. Arrumar a casa, preparar o almoço, perguntou
por perguntar.
Respondeu a prima arrojada, que
havia inventado o passeio.
Pegaram a condução, as 5
adolescentes, sempre olhando para trás, desconfiadas.
Chegando perto da Ponte Pênsil,
desembarcaram, e seguiram a pé, procurando pelo endereço rabiscado.
Bateram palmas, na casinha colorida,
e foram atendidas por Madame Margot:
—
Vão
entrando, garotas, desvendarei todos os mistérios de suas vidas.
Assustadas, foram empurrando umas as
outras:
—
Quanto
custa a consulta, senhora?
Tinhosa, foi encaminhando as
medrosas para a sala de espera.
Era um puxadinho atrás da cozinha,
chão de lajotas com cadeiras enferrujadas.
—
Não
se preocupem com o pagamento, vamos às cartas, e depois me dão um tantinho.
Chamou logo Camila:
—
Venha,
menina linda, vamos ver quem será seu primeiro namorado.
Camila entrou tremendo, surpresa em
saber que Madame Margot adivinhava seus pensamentos.
Na minúscula sala, coberta de véus
desbotados, jazia uma pequena mesa, dois banquinhos, e o baralho divinatório.
Madame Margot manuseava com vigor as
gastas cartas, de olhos fechados, parecia tomada por espíritos.
E começou a ler:
—
Um
rapaz moreno está interessado em você.
Com a cara de decepção de Camila,
continuava:
—
Mas
não será este o seu amor, e sim um homem claro, alto, muito bonito.
Continuou assim, adivinhando os
anseios das inexperientes veranistas. Uma por
uma.
Ganhou uma bolada, deixando as
meninas só com o dinheiro do ônibus.
Voltaram atiçadas para casa, já na
hora do almoço.
Não conseguiam abafar o entusiasmo,
e Dita acabou escutando:
—
Hoje
a noite, na sorveteria, vamos testar os meninos. Se Madame Margot estiver
certa, amanhã estaremos todas comprometidas.
Dita conhecia bem a charlatã, e seus
métodos. Esperava há anos o príncipe encantado prometido por ela, que levou seu
salário de um mês.
—
Mas
essa malandra não vai mesmo judiar das minhas princesas.
Chamou a patroa, contou toda a
epopeia, que proibiu as filhas e sobrinhas de saírem naquela noite.
—
Estão
todas de castigo! E se desobedecerem não irão mais nem à praia!
O entusiasmo foi minguando,
envergonhadas por terem sido enganadas, já nem tocavam no assunto. Desistiram
de atacar os pretendentes.
Alguns anos mais tarde, Camila teve
o seu primeiro namorado.
E era um rapaz moreno.
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