JERÔNIMO – O PORTUGUÊS - Antonia Marchesin Gonçalves

 


JERÔNIMO – O PORTUGUÊS

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                   Em 1919 Jerônimo saiu de Portugal de uma pequena vila na região do Alto Douro, nasceu e lá cresceu numa quinta dos seus pais plantadores de uva e azeitonas. Sendo caçula de quatro filhos, o sonho dele era ampliar seus horizontes. Não pode estudar, fez só até a oitava série, pois tinha que ajudar na propriedade que não tinha empregados.

                   Com vinte anos avisou os pais que viria para o Brasil. Era o sonho dele. O tio, irmão do pai, já morava há muitos anos na cidade de São Paulo, mais precisamente no Guarujá, na Enseada. Jerônimo chegou já espantado com o tamanho da cidade vista do avião. O tio veio buscar em Guarulhos e desceram direto para a praia da Enseada, depois de dez horas de voo e mais duas horas na estrada até chegar na casa do tio José.

O tio era proprietário de uma padaria, pequena, e conseguira comprar sua casinha, carro e o sustento para não faltar nada. Sentia-se rico, pois os dois filhos faziam faculdade e ajudavam, com a mãe, na padaria.

Depois de alguns dias, ele saiu à procura de emprego, seu tio aconselhou que fosse ao condomínio de casas em frente à praia, ele soubera estarem procurando jardineiro, e de plantas Jerônimo entendia. Na entrevista de emprego o síndico do condomínio gostou dele e o empregou. Forneceram o material de trabalho e um uniforme. Feliz, ele disse ao tio que tivesse paciência com ele até poder pagar um quarto, e a resposta foi, fique o quanto precisar, mas ajude com a despesa da casa.

                   E assim foi durante o primeiro ano, no condomínio Jerônimo foi conquistando a todos, que além de cuidar do jardim da área comum, ele passou a cuidar dos jardins de algumas casas. Com isso entrava sempre um dinheiro extra. Almoçava de marmita trazida de casa e não gastava com refeição, era mais uma economia.

                   Em dois anos conseguiu comprar a sua primeira casinha, quarto, cozinha, pequena sala e banheiro, mobiliou com o estritamente necessário e se mudou emocionado.  Passou a noite acordado no seu primeiro dia nela.

                    Numa das casas no condomínio moravam pais com dois filhos, a filha mais velha estudava na Inglaterra e tinha voltado após a sua graduação.  Mariana chamava-se, era alegre e dinâmica. Jerônimo se apaixonou no mesmo instante em que a viu. Contou para o tio que o aconselhou esquecer jamais a moça daria atenção a ele. Durante meses ele sofreu com seu amor platônico. À noite, na cama, dormia com a sua imagem.

                   Certo dia Mariana estava colhendo rosas no jardim e olhou para ele, e perguntou se era ele que cuidava do jardim. Envergonhado, respondeu que sim, e a partir daí passaram a ter longas conversas, o que alimentava mais o amor dele. Mariana passou a prestar mais atenção e a notar na beleza dele. Os pais começaram a se preocupar a ponto de proibirem que ela desse atenção ao português jardineiro. Não foi para isso que você estudou fora, argumentavam. Com a proibição, ela percebeu que se enamorara por ele e passou a demonstrar os sentimentos, até ele se declarar e ela aceitar.  Decidiram fugir e se casaram no cartório, a primeira noite foi na casinha dele.

                   Os pais dela não tiveram outro jeito senão aceitar, e resolveram ajudar o casal a montar uma empresa de jardinagem que, com os anos, cresceu muito, só sucesso e prosperidade.

                        Com os dois filhos, nas férias foram visitar Portugal e seus parentes. Aproveitavam para conhecer outros países europeus.

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