ILHA ESCURA e o PIRATA GUARDIÃO - Parte II - Maria Luiza Malina

 



ILHA ESCURA e o PIRATA GUARDIÃO 

Parte II

Maria Luiza Malina

 

"O pirata guardião da Ilha Escura, só é visto em noites de lua cheia". Uma lenda levada pelos fortes ventos que impregnou com certas ranhuras de áspera curiosidade e sabor juvenil, os aventureiros mais afoitos.

 

Agências de turismo exploram exclusivamente - jantar romântico para casais - absolutamente no rigor das regras e horários.

 

Haja rajadas de chuva ou nuvens que encobrem a lua, brincando de esconde-esconde. Não importa. Se um tempestuoso vento surge no repente, escurecendo totalmente a embarcação num negro véu, da mesma forma na sensação de "tudo perdido, vamos morrer"... em que todos se abraçam e temem pular ao mar, lembrando a tragédia do Titanic, com OH, não! Mãos que se grudam, braços que se transformam em guelras, o bater do coração, tum!tum!tum! Não importa. Sem saberem, os afoitos marujos de 1.ª. viagem, todos fantasiados de piratas e as mulheres com saias rodadas coloridas e perfumada flor nos cabelos, brindam seu amor. 

 

No controle do corte do bater do vento nas velas da grande e velha embarcação, o Capitão, homem de meia-idade, mantém se firme, com o eterno cachimbo amadeirado pendurado do lado esquerdo da boca a combinar com o roto casaco de navegação fechado até o pescoço, orientando sem cessar ordens aos marujos quanto a arte de manobrar velas em função do vento, durante as dezenas de minutos de mar bravio. Os turistas, pobres turistas arregalados, mais e mais se comprimiam num todo.

 

A ação do pirata quando se sentia invadido por estranhos, tornava o mar revolto, não permitia aproximação de nenhuma embarcação. A Ilha Escura só a ele pertence. Necessitava absorver o som do terror e exclamações, a força da voz do Capitão, o esforço desmedido dos marujos no controle da nau, em noites escuras, este conjunto o abastecia na solitária sobrevivência física e espiritual.

 

O olhar ansioso aguardava a cada morte do dia a vida renascer no céu.

 

Nas noites de calmarias inusitadas, com um mar transformado numa grande lagoa azul escura em que a amorosa luz da lua se reflete, acentuando o ondular sensual dos seus cabelos nas ondas, remete a um berço de bebê embalado por mãos suaves e afilados dedos ao delicado som de uma canção de ninar.

 

Este momento marca a presença de seu grande amor chegando lentamente no crescer da Lua. De tempestuoso e estranho pirata passa a acalmar-se nas vagas iluminadas. Conversam longínquas, chegam lhe aos sussurros sentindo a aproximação crescente de sua amada que brilha forte para estar perto de seu amado e inesquecível amor, um dia deixada à mercê de uma espera sem fim.

 

Ele é o Dia com seus malditos e benditos afazeres, ela é a Lua Cheia que a cada quatro estações trazia-lhe notícias da amada que morreu aguardando seu retorno. Hoje, reencontram-se na força humana brutal acalmada pela doçura da beleza do nascer da encantadora Lua, que na amada se transformou. Ele continuará a ser o estranho pirata solitário.

 

 

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