UM BOM NEGÓCIO - OSWALDO U. LOPES

 




O VELHO GASPAR TROPEIRO

Oswaldo U. Lopes

 

        Três hipóteses para contar uma história com base na figura:

1-   Gaspar chegou de viagem, recolheu a tropa e se dá ao luxo de fumar um charuto.

2-   Gaspar ouve uma proposta de negócio que envolve sua tropa. O charuto é uma forma de ganhar tempo para responder.

3-   Gaspar viu ao longe uma tropa e já não tendo idade para sair com a tropa puxou um charuto para pensar na vida.

Hipótese escolhida, a de número dois.

 

 

UM BOM NEGÓCIO

 

        O homem a sua frente falava com calma, sem pressa. Gaspar já o conhecia como um negociante esperto e responsável por várias novidades na pequena vila.

        — Pois é seu Gaspar, o senhor já não é jovem, a tropa também não é. Estou lhe oferecendo um preço bom pelo conjunto. O pessoal já notou que o senhor já não faz tantas viagens como fazia antigamente.  Neste último semestre foram só duas.

        Gaspar precisa de tempo para responder. Se fosse pelo instinto mandava o homem pra aquele lugar de imediato, mas ainda não era o caso. Para ganhar tempo ascendeu um bom charuto e desviou o olhar para o alto, enquanto pensava.

        Bom negócio é a comadre da sua madrinha. O que você entende de tropa? Eu estou nessa desde que tinha onze anos e tropeava com meu falecido pai. Aquilo é que era vida. Pegava mercadoria nos armazéns de Sorocaba e punha a tropa a andar rumo ao sul.

        Não tinha nem BR nem asfalto. A gente, meu pai o ajudante dele de nome Francisco e eu, distribuía a carga pelas mulas e tocava em frente. Eu ia na ponta da frente, meu pai atrás que é o lugar mais importante para vigiar os muares e o Francisco no meio para evitar que alguma mula desgarrasse de lado.

        Se o tempo ajudasse e não tivesse muita chuva, a viagem levava um mês e meio para chagar a Pelotas destino final da tropa. Se tivesse carga para Sorocaba, o que era muito bom para o bolso, mas ruim para viajar, era mais um mês e meio para chegar em casa. Se não tivesse carga, o que era ruim para o bolso, mas bom para a viagem, em um mês estávamos de volta.

        O que ele tá falando é a mais pura verdade, já não tenho idade e já não tem carga para tropeiro. O que ele vai fazer com a tropa não é problema meu, fico com o burro Jagunço que esse é de estimação e o resto vai-se.   Olhou mais uma vez para o céu e falou:

        — Podemos fechar negócio, você põe mais dez contos na sua proposta e eu aceito, só que tiro o burro Jagunço que esse não tem preço.

        — Negócio fechado seu Gaspar.

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