UM MAJOR QUE ERA SEM NUNCA TER SIDO - Oswaldo U. Lopes

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UM MAJOR QUE ERA SEM NUNCA TER SIDO
Oswaldo U. Lopes

        Enganar o inimigo pode salvar mais vidas do que os feitos de um destemido combatente na linha de frente. Não precisamos ir longe, durante a revolução constitucionalista de 1932, em São Paulo, a matraca, instrumento conhecido das procissões da Semana Santa quando os sinos devem permanecer silenciosos, fez furor ao amedrontar as forças federais, pois seu som imitava o de uma metralhadora. Supria com eficiência a falta de armamentos que complicava a vida dos revoltosos. Ainda é possível ver esse tipo de “arma” em museus da cidade de São Paulo.

        Durante a Segunda Guerra Mundial os ataques desferidos pela espionagem e contraespionagem, quer alemã, quer dos aliados passaram a história ou pelo seu sucesso ou pelo seu fracasso. Não faltaram bizarrices como o tanque inflável para fazer crer na presença de destacamentos em lugares improváveis. Um dos mais interessantes e que, pelos detalhes, ficou famoso foi o da criação do Major William Martin.

        Terminada a campanha na África com a vitória aliada, sabia-se que o passo seguinte era levar a guerra contra o eixo ao continente europeu, criando uma segunda frente. No Leste já se travavam batalhas sangrentas entre russos e alemães. Stalin implorava por uma segunda frente que aliviasse a pressão dos nazistas.

        Uma olhada no mapa indicava a Sicília como alvo lógico. Era próxima da África e bloquearia a Itália que era ainda uma aliada não desprezível de Hitler. Ou seja, tratava-se de criar uma história fantasiosa para enganar o obvio. Não era fácil. Como não era fácil coube aos ingleses faze-lo. Conta-se que a criação original foi de Ian Fleming que trabalhou no serviço secreto inglês, durante a guerra.  Mais tarde ele ficou famoso pela criação de James Bond o agente 007.

        A ideia era simples fazer aparecer em praias da Espanha o corpo de um oficial britânico com papeis que configuravam o desembarque aliado na Sardenha, na Córsega e na Grécia.

        O cadáver foi encontrado na pessoa de um vagabundo errante que morrera pela ingestão de veneno de rato. A lesão dos pulmões era perfeitamente compatível com afogamento.

        Pronto. A partir daí nasceu o Major, comissionado da Royal Navy, William Martin, nascido em Cardiff em 1907 e que tinha conta bancária, namorada e outros saborosos detalhes como atestaram as autoridades espanholas da praia de Huelva, já que seu cadáver foi desovado, de um submarino inglês, nas praias dessa cidade espanhola.

        Usava um colete salva-vidas que não impedira seu afogamento, trajava uma farda com seu nome gravado e portava presa ao pulso, com algemas, uma importante pasta de couro contendo documentos que detalhavam o falso desembarque. 

        A certeza de que os alemães haviam mordido a isca só veio depois da guerra. Mas de imediato Hitler ordenou um deslocamento importante de forças em direção a esses locais, desguarnecendo a Sicília que assim tornou-se um alvo fácil do ataque.


        A Espanha, sob total controle de Franco e suas falanges havia declarado neutralidade no conflito, mas sabia-se da proximidade e colaboração com o regime nazista. O curioso é que o corpo e os pertences do falso major foram entregues ao Consul Britânico sem sinais de violações. Este por sua vez providenciou enterro e lápide que ainda hoje é visível em Huelva. Gravou-se depois da guerra o nome do vagabundo errante na lápide. Foi promovido a herói post-mortem.

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