O INTRIGANTE VALDOMIRO - Maria Luiza Malina


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O INTRIGANTE VALDOMIRO
Maria Luiza Malina

Nada passava desapercebido a Valdomiro a quem, de porte enigmático esbanjava um  olhar frio que se esgueirava por todo o escritório, sem mover por nenhum instante a cabeça, ressaltando os finos tecidos dos ternos cuidadosamente confeccionados por um dos últimos alfaiates da cidade. Não deixava de ser interessante, diria que até mesmo, era um dos últimos homens sensuais à moda antiga. Faltava-lhe talvez, um cigarro entre os dedos e a fumaça rodopiando junto aos seus pensamentos, um café, uma vez que nunca portava qualquer mala tipo zero zero sete.

No café, assim era visto de forma mais descontraída. Jamais na presença de algum colega de trabalho o que, aliás nos fazia muito bem, estava sempre entre os empresários bem sucedidos. Os cochichos eram frequentes. Poucas eram as amigas, a não ser as “moças do tempo” assim chamadas, sem exceção quanto a fama televisiva.

Cuidar da vida dos outros parecia ser o hobby das funcionárias em busca de um bom partido. Nunca deixou pista. Era intrigante, após o café e rápidas palavras, pagava a conta com gorda gorjeta, despedia-se da jovem e saia a passos largos.

Por trás deste charme  um homem descontente. O cargo de confiança transformara-se em desconfiança. As vastas propinas rareavam-se frente aos milionários contratos. Orlando seu sócio, presidente da empresa, o surpreendeu com um jantar em seu apartamento. Desconfiado, concordou sugerindo que fosse em sua própria casa. Orlando aceitou de imediato imaginando que as belas amigas estariam presentes.

Naquela noite chovia intensamente. Os trovões eram sequenciais. Os raios explodiam em enormes clarões na casa de Valdomiro, os tiros nem puderam ser ouvidos. Tudo aconteceu muito rápido. Sem testemunhas. Vizinhos assustados confessaram que ouviram em meio aos trovões, sons que pareciam ser os costumeiros “baloeiros” clandestinos nos céus de São Paulo.

O corpo de Orlando foi encontrado há quatro quarteirões da casa de Valdomiro, ao lado do carro; ao que a polícia concluiu que havia sido vítima de assalto seguido de morte. No celular o último contato com Valdomiro. A polícia o localizou como suspeito e, foi surpreendida com um farto jantar e apenas dois copo de whisky aguardando o convidado.


A “moça do tempo” apenas comentou, “hoje a chuva está descendo a ladeira”.

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