O CIRCO - SÉRGIO DALLA VECCHIA

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O CIRCO
SÉRGIO DALLA VECCHIA

Miguel perambulava pelas ruas na pequena cidade do interior.

O sol ardia em seu corpo, mas não se incomodava, pois ele estava seguindo a caravana do circo, que acabara de chegar à cidade.

Estava deslumbrado, sua satisfação era enorme.

À frente ia a banda abrindo alas tocando alegres marchinhas, depois o elenco do circo, moças bonitas em trajes coloridos, os palhaços fazendo estripulias e os ajudantes impecáveis em suas fardas vermelhas com ornamentos dourados.

Ao meio seguiam as trupes de malabaristas e trapezistas.

Na sequência vinham as jaulas dos leões, no fim os elefantes e lindos cavalos brancos da raça lipizzano desfilando garbosamente.

O circo se acomodou em um grande terreno nos arredores.

Logo ergueram a lona de cobertura multicolorida, depois montaram o picadeiro e a bilheteria.

Os trailers dos artistas foram dispostos em círculo, formando uma pequena comunidade.

Miguel não via a hora da grande estreia. Foi até a bilheteria e adquiriu um ingresso para o próximo sábado, data escolhida para o primeiro espetáculo.

Feliz da vida sonhava com o que iria assistir no sábado.

Dirigiu-se ao centro da cidade e lá entrou em conhecida sorveteria e entusiasmado foi logo dizendo:

—E aí pessoal, já compraram as entradas para a estreia do circo no sábado?

—Circo? - Indagou o balconista.

—Não vimos circo algum chegar à cidade. - Retrucou um freguês.

—Mas como? -Respondeu Miguel indignado!

—Eu acompanhei a chegada da caravana até eles se instalarem e até comprei o bilhete para sábado. Olhem aqui e tirou do bolso mostrando-o à todos.

 —Você está maluco! - Gritou outro freguês.

—Não existe bilhete algum! -Continuou o homem.

—Vocês não acreditam mesmo, pois então me sigam até o local e verão com os próprios olhos. – Retrucou Miguel, indignado.

Meio a contragosto um pequeno grupo resolveu segui-lo.

Enquanto iam se aproximando, Miguel inflamado falava a todos:

—Olhem, não falei!

—Vejam a bilheteria e o corpo do circo!

O grupo pasmo olhou para Miguel e um dos integrantes não se conteve e bradou:

—Você pirou de vez, até parece Dom Quixote!

—Não é possível que vocês se neguem a enxergar a alegria da vida - Retrucou novamente Miguel.

—Vejam o tremular das bandeirinhas coloridas ao vento, sintam a alegria contagiante das crianças, o cheiro da pipoca, os rugidos das feras e as divertidas trapalhadas dos palhaços!

—Olhem novamente com mais atenção e entreguem-se para o mundo do circo!
Assim que o eloquente Miguel terminou com seus argumentos, houve um silêncio geral. Parecia que o grupo entrara em transe!

Do nada surge uma voz, era seu amigo Sancho, um homem pequeno e gordinho que lhe tinha apreço e foi logo dizendo:

—Tem razão, como não pude enxergar. Agora vejo nitidamente a bilheteria e também a formação de uma pequena fila para a compra de ingressos.

— Antes que se esgotem, vou correndo adquirir o meu!

Logo outra voz surgiu:

—Espere, eu vou com você. - Disse mais um do grupo.

A credibilidade em Miguel foi crescendo a tal ponto de todos saírem em disparada na direção do circo. 

Logo chegou o esperado sábado, o grande dia da estreia!

O espetáculo foi maravilhoso, lotação esgotada, nunca se viu tanta gente se divertindo. Os sorrisos eram largos e descontraídos extravasando a pura alegria.
Assim a apresentação terminou com sucesso total e a multidão feliz retornou aos os seus lares.

Como um encanto, a população da cidade amanheceu totalmente mudada em seu modo de agir, pensar e principalmente com alegria de viver.


Nem Miguel, nem todos os outros falaram mais a respeito do circo! -Não era mais necessário, pois o encanto foi consumado.

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