Amor Tupi - José Vicente J. de Camargo


Amor Tupi
José Vicente J. de Camargo

Vamos fazer uma pausa e dar um passeio no parque da Árvore Morta? Convida Andiara a Gracinha, sua noiva de há 6 meses, nos preparativos da lista de convidados para o casório e na escolha do local da lua de mel.

Parque da Árvore Morta? Onde fica isso? Exclama ela

Nada mais que o parque do Ibirapuera, que em Tupi quer dizer madeira morta, por que lá, antigamente, era um pântano com muitas árvores.

Gracinha não se surpreende com a expressão do noivo, pois sabe do seu interesse pelo idioma tupi-guarani,  e retruca:

Já disse que você deveria ter estudado antropologia e se especializado nos habitantes primitivos do Brasil. Assim como você, eles eram grandes aventureiros, adoravam esportes radicais e davam muito valor à natureza.

Certo, responde Andiara. Acho que meus pais tiveram essa premonição ao me deram esse nome. Mas não só os indígenas da época do descobrimento eram profundos conhecedores dos segredos da mãe terra. Seus descendentes, que habitam hoje nossas florestas e sertões, também o são. Seus conhecimentos e sua linguagem devem ser preservados. Pena que nossos governantes e, por consequência a sociedade e, principalmente os jovens, não lhes dê a devida importância.

Cuidado para não se ficar culpando de ter escolhido a profissão errada e ser mais um advogado frustrado. Completa Gracinha. E repito que não quero passar a minha lua de mel nas missões jesuíticas.

Não, responde Andiara. Vamos passar em Porto Seguro onde houve o primeiro encontro dos tupis com os portugueses. Algumas tribos ainda vivem lá. Lindas praias e interessantes pontos históricos. Você vai gostar, e emenda:

O que você acha de depois do passeio no parque, irmos comer tapioca na barraca da Tainara? Ela faz uma de açaí com coco ralado de dar água na boca!

Ok, concorda Gracinha. Mas não invente depois de querer completar com pamonha e sorvete de milho. E já vou avisando que hoje não vou jantar pato no tucupi...

Tupã! Exclama Andiara

Ok?  - Indaga a noiva

Trovão em tupi, vai chover! Vamos ter de adiar o passeio para outro dia. Voltemos para oca, quero dizer, pra casa. Até que essa chuva veio a calhar, assim podemos estrear a rede de balanço que comprei, é de casal....

Nem pense nisso! Interrompe Gracinha. Só se você concordar que o nome do nosso primeiro filho não será Jacaúna como você quer, mas sim qual eu escolher...

Está bem! A peteca tá contigo, meu biju! Mas se for menina pode ser Bartyra? Veja, eu até já fiz essa poesia para ela:

 Bartyra
Por nobre Bandeirante deslumbrada
À margem das águas do Paraná
Pousada entoa com voz veludada
Canto de mata de sol recortada

Coração luso à visão meiga palpita
Sonhando os cabelos de negra lisura
Com rudes mãos afagar com ternura
Até o transe da paixão esquecida

Num impulso tal onça parceira
Aos seus pés humilde se prostra
E mirando seus lábios pitanga
Ruge forte seu canto de amor...

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