A ESQUINA MAIS FAMOSA DE SÃO PULO, quase. - Oswaldo U.Lopes



A ESQUINA MAIS FAMOSA DE SÃO PULO, quase.
Oswaldo U.Lopes

         Fazia bem uns 50 anos que Julio César não andava na Avenida São João. Talvez até mais considerando que faltavam meses para os 80 anos. Quando jovem, gostava de andar por ali, dava sempre uma espiada nos cinemas que eram de muita qualidade e famosos, Marabá e Marrocos. Se tinha tempo ia atrás de um Bauru no Ponto Chic, ali no Largo do Paiçandu. Entre outras lendas dizia-se que o seu inventor Casemiro Pinto Neto, oriundo de Bauru o havia criado no ano de 1937, ano de seu nascimento.

        Naquele tempo não tinha galeria do rock e perto havia, na Dom José de Barros, mais um bonito cinema, cujo nome lhe escapava. Continuou subindo a São João passou na porta de um antigo hotel e chegou à esquina, essa sim a mais famosa de São Paulo, São João com Ipiranga. Famosa, sim, muito antes da musica de Caetano Veloso, perguntassem ao Paulo Vanzolini. É estava misturando um pouco as coisas o Paulo Vanzolini agora só podia ser consultado em sessão espírita.

        Resolveu seguir pela São João e foi andando. Viu de longe a Pça. Da Republica e continuou seguindo, ali havia outro cinema, cine Metro famoso pelas matines, do outro lado viu a Pça. Julio Mesquita e seu afamado chafariz. Resolveu esticar até onde o fôlego dava e foi na direção da Duque de Caxias, de longe poderia contemplar as antigas e lindas estações de estrada de ferro. A da Sorocabana agora estava convertida numa  casa de espetáculos, conhecida como Sala São Paulo. Esta ele conhecia bem, gostava de musica clássica e ali era o templo maior desses espetáculos.

        Foi nessa esquina, de São João com Duque de Caxias que viu um aglomerado de gente, trânsito interrompido, policia, regate etc. Pergunta daqui, pergunta de lá, soube do acontecido, automóvel e ciclista haviam colidido e a diferença de massa fizera o resto. Corpo estendido no chão coberto com um pano preto que não era nada mais que um saco de lixo grande, rasgado ao meio. O capacete do ciclista de um lado, a bicicleta bem amassada de outro e o carro com a lateral deformada ainda  atravessado na rua, como que a provar que a lei da colisão das massas era aplicável em todos os casos. Nunca fora fã de bicicleta, mas a repetição dessas cenas por toda São Paulo estava pedindo uma reflexão mais séria do que simplesmente construir ciclovias.

        Para seu espanto e o de alguns próximos, começou a rir quase que incontrolavelmente. É que se lembrara da letra do samba:

“Ta lá o corpo
Estendido no chão
Em vez de rosto uma foto
De um gol”.

        Ria e pensava, é como foi coberto com saco de lixo em vez de jornal, não tem foto. Tentou lembrar o resto da letra de João Bosco e lhe veio a mente o “bom churrasco de gato”. Agora estava rindo demais e achou melhor arrumar um táxi e ir embora. Não conseguiria explicar que aquilo eram memórias e não ofensas ao ciclista morto. Tava tudo muito mudado, onde ficava mesmo o famoso Teatro de Revistas com as vedetes cariocas?


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