GABRIELA – A MULHER DE VERDADE - Antonia Marchesin Gonçalves




GABRIELA – A MULHER DE VERDADE
Antonia Marchesin Gonçalves



             Gabriela chega cedo ao restaurante da família, ela tem que tirar do freezer todas as carnes, limpar legumes e verduras. Nervosa com tanto trabalho, esqueceu os óculos e o pilantra do marido Marcos ainda não tinha chegado para ajudar, aliás, era viciado em qualquer jogo, carteado, sinuca, dados, e nem tinha passado a noite em casa. Usava uma lanterna acesa para poder enxergar as carnes dentro do frigorífico. Leva um susto e ouve o soar de um apito forte, sai correndo e vê o marido Marcos feliz voltando da jogatina.

             Meio bêbado sendo que a cachaça correu solta, para variar, esqueceu ou perdeu a chave de casa. Indignada, tenta não brigar com ele, ela sabe que vai ser enganada com as conversas fiadas dele, ele é bom nas mentiras. Todos os dias é a mesma coisa, ele consegue o dinheiro da renda do dia, diz que vai pagar as contas e some para gastar nos seus vícios, banhado e perfumado depois de um sono reparador.

             Todo o bairro conhece as suas brigas e ela diz que vai se separar, mas quando ele a abraça lúcido e a beija esquece tudo e ele sabe bem aproveitar a situação. O casal de filhos já na adolescência  sofre  em ver a mãe se desdobrando na administração financeira e trabalhando muito, tentam ajudar, mas o sonho dela é ver seus filhos formados e os poupa mais que pode. A verdade é que o exemplo familiar a leva agir desse modo, filha de mãe solteira sofreu com a falta de um pai e nessas horas jurava a si mesma que se casaria nunca deixaria os filhos passarem pelo que ela passou, ela se esmerava para cobrir a ausência e os vícios do marido.

             Mas, os próprios filhos acabaram se revoltando contra o pai em várias discussões cobraram a separação, usando o argumento de que não eram uma família exemplo de união e amor, não tendo sentido continuar a hipocrisia. Até que ela cansou e acabou largando o pilantra, e junto aos filhos mudou-se para a sua cidade natal. Montaram um pequeno bar, logo conseguiram comprar sua casinha e ela pode tranquila curtir a aposentadoria em companhia dos filhos e netos.

             Ninguém muda ninguém, a não ser de vontade própria, assim nós que devemos mudar para sermos felizes.
            

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