TOMADA DE DECISÃO
Sérgio Dalla Vecchia
Vestiu o melhor maiô,
cobriu-se com o inseparável chapéu de palha e complementou com a saída de que
tanto gostava. Caminhou em direção à praia e lá se instalou junto ao mar. Mente
fria, de quem fez o que tinha de ser feito, sem o menor arrependimento.
Sentada na areia, apoiada
nos braços, observava distante o encontro do azul com o verde.
Ainda sentia o cheiro vermelho
nas mãos, enquanto flashs do infortúnio pipocavam a mente.
Gustavo, seu marido e sua
melhor amiga, não poderiam nunca viver um caso amoroso. Doía muito na alma da
dedicada esposa. Amava demais Gustavo para aceitar qualquer argumento que
justificasse tamanha afronta à dignidade dela.
Flashes surgiam, faca nas
mãos, a cozinha e as estocadas nas costas do infiel, até que tombasse no piso
cerâmico branco, estendendo um tapete vermelho da traição. O abraço da
apaixonada sobre o corpo inerte, derramava lágrimas antagônicas de amor e ódio.
A ducha lavou o corpo nu do
sangue derramado, ao mesmo tempo que ela desesperada banhou-se naquela
sangria até que se transformasse apenas
em água. Ela relutava à desapegar-se do amor da sua vida.
Assim, sentada no chão do
box, ficou imóvel apenas sentindo a água morna levar o resto da sua energia
ralo abaixo.
Logo acordou do transe, com
expressão firme vestiu-se, e lá se foi à beira mar. Já acomodada, lembranças
surgiam dos bons momentos do casamento, ensaiou até cantarolar uma música, abrindo
um desajeitado sorriso, mas a apatia a dominava.
Assim, por horas permaneceu
latente naquela posição, apenas relembrando, até ser incomodada com uma voz
masculina perguntando:
— É a
senhora Elisabete?
Ela levantou-se prontamente
e logo respondeu:
— Sim, sou eu mesma, até que
não demorou sr. policial, não o esperava tão cedo, aqui estava tão bom, mas dê
logo a voz de prisão.
— A senhora está presa, por favor me
acompanhe à Delegacia.
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