PROCURAS
MÁRIO
AUGUSTO MACHADO PINTO.
Maria
é empregada doméstica. À noite chegando à sua casinha após o trabalho, muitas
tarefas a aguardam entre elas lavar roupa do que diz ser o enxoval do lar. Está
com catarata ainda no início em ambos os olhos e como o oculista receitou,
comprou “o meu par de óculos” em dez prestações pelo crediário. Zé, seu marido,
reclamou dizendo que podia ter comprado um mais barato. Claro, disse ela, assim você
teria um dinheirinho pra beber umas biribitibas e jogar sinuca com seus amigos
naquele bar fedorento. Agora, meu querido, não tem mais durante dez meses. Vá
se virar em outra freguesia, cara pálida.
Lanterna
portátil acesa, Maria vai andando lentamente em direção à porta que leva ao
porão. Houve um curto-circuito, está escuro. Chama pelo marido e ouve, como
sempre, o som do silvo do inseparável apito. Ele diz ser de curió.
Nada disso. É invenção dele,
resmunga
e grita raivosa:
—
Zé,
aproveita que está aí embaixo e vê se encontra minhas chaves: a da entrada e a
do quarto.
Pergunta
o Zé: Onde?
— Ora, Zé, não seja burro. Se eu soubesse
pediria pra você pegar as chaves em tal
lugar, mas pode ser que tenha deixado perto da porta do quadro dos fusíveis, diz
Maria com aquela voz de gozação que deixa o Zé em pé de guerra.
Não
estava fácil. Maria escuta o barulho e os ais do marido ao topar em algum
guardado, abafa risadinhas e diz baixinho Aguenta
Zé, não dá no pé. Está escuro feito breu e ouve o marido resmungar em voz
alta:
—
Só podia acontecer isso. Será aqui? Não, mais pro lado. Ai, ai, lá foi a unha
do dedão.
Chega
perto da caixa dos fusíveis e grita:
—
Tô nele. ´tão aqui, né? Me diz uma coisa: o chaveiro tem cobertura de pelúcia?
Maria
grita de volta:
—
Não precisa mais. Já encontrei.
Zé
solta um baita palavrão, liga a chave geral e, horrorizado, vê o que tem na
mão: um baita rato cinza escuro seguro pelo rabo.
—
Que nojo!
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