VENTO CONTRA - Sérgio Dalla Vecchia



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VENTO CONTRA
Sérgio Dalla Vecchia



Zaki (inteligente, esperto), filho de Simba (força, leão) e Iana (flor bonita, graciosa) sentado no chão de terra batida dos seus ancestrais, esforçava-se para terminar a lição de casa, utilizando as três únicas ferramentas intelectuais que recebeu na humilde escola primaria no interior do Congo; lápis, caderno e borracha. 

Ele se apegou tanto nessas desconhecidas ferramentas, esperto como seu próprio nome dizia, com a força herdada do pai Simba e a graciosidade da mãe Iana nada o detinha para fazer as lições e desvendar o mundo encantado das letras.

Era querido por todos os poucos coleguinhas e pela amada professora. Via nela seu futuro. Com sofreguidão engolia as frases ditadas, para depois digeri-las transcrevendo-as para o caderno.

Certo dia surgiu um grupo de jovens voluntários para tratarem da saúde dos alunos. Médico, dentista, nutricionista e outros abnegados do bem querer.

Zaki quando viu a figura do médico, de branco e estetoscópio no pescoço, arregalou os grandes olhos e como uma máquina fotográfica registrou no âmago do cérebro a imagem de um salvador.

Nesse momento de sintonia, o simpático médico vendo aquela expressão de espanto, passou a mão na cabeça do menino e disse-lhe. Calma garoto não vou lhe fazer mal algum, não tenha medo.

Ainda atônito, Zaki foi relaxando até soltar palavras presas na garganta:

—Quero ser igual a você!

O jovem médico, sensibilizado o abraçou carinhosamente.

— Zaki, você terá que estudar muito e lutar com muita garra para vencer os principais inimigos, a carência e o preconceito para se diplomar em medicina.
Zaki ouvindo aquilo, não se abalou e com expressão confiante disse:

— Você me ensina a ser médico?

Essa pergunta tão espontânea, atingiu Dr. Irajá de tal maneira, que respondeu de pronto com o coração.

— Ensinarei sim com muito gosto! Respondeu emocionado.

Desse dia em diante, Dr. Irajá acompanhou pari passo a escalada de estudos de Zaki ajudando financeiramente.

A cada desafio, médico e aprendiz se uniam como num só e logo a barreira era transposta com sucesso. Eram como pai e filho. O amor pela profissão os fundia.

Zaki um rapaz de 25 anos, agora lutava para a conquista do diploma tão almejado. Estava no último ano da famosa Queen Mary University of London.

Nas madrugadas enquanto estudava, o sono queria derrubá-lo, mas com os pés imersos numa bacia de água fria, logo o rechaçava e mais algumas páginas eram assimiladas. Assim ia madrugada a dentro.

Às vezes, Zaki escapava por instantes da sua perseverança e recordava a infância sofrida, o primeiro caderno, das vogais e da imaculada professora. Pensamentos de glória e ao mesmo tempo de tristeza pela carência da sua terra natal, inundavam seu cansado cérebro. Lágrimas brotavam!

Assim, passado algum tempo chegaram os exames finais.

Após muita ansiedade, ele foi aprovado nos exames com louvor e classificando-se entre os três primeiros colocados.

Dr. Irajá e Zaki não se continham de tanta alegria. Ambos haviam derrotado com bravura a carência e o preconceito que sopravam incessantemente na direção contraria do objetivo.

Logo voltaram à África, onde foram recebidos com honras na mesma Escolinha e com o mais caloroso dos abraços da amada professora.

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