Encontros e Desencontros – Na Praia com
Maracujá
José
Vicente J. Camargo
− Você
já encontrou sua outra metade da laranja? Pergunta Monica de repente me
encarando de frente. Seus olhos negros amendoados combinam com sua pele morena
e com seus cabelos negros que lhe tocam o ombro. Seus lábios entreabertos mostram
os dentes alvos. Gotas de mar salpicam seu corpo bem torneado de mulher dona de
si. Acabávamos de sair das ondas que nos refrescaram do forte calor de verão.
A
conheci no dia anterior, debruçada sobre um sorvete numa mesa de canto da única
sorveteria do vilarejo pregado no costão junto ao mar. Minha atração foi
imediata, uma carga elétrica atraída pelo polo oposto. De sorvete em punho peço
licença para compartir a mesa e a brecha para o diálogo se abre ao ver que tínhamos
algo em comum: sabor maracujá! As frases vagas do início foram se tornando mais
consistentes no café e bolo, e à noite na pizza com vinho que liberou as
confidências escondidas e culminou com o encontro marcado para a manhã seguinte
na praia.
O sono
da noite me varreu as horas apressado, ansioso de continuar a descobrir o
intimo dela, dar vazão à curiosidade de saber mais...
− Está
com medo de contar? Interrompe Monica meu pensamento relâmpago relembrando o que
passou desde o sorvete.
− Sim,
já encontrei minha metade da laranja! Mas a perdi logo em seguida sem degustá-la
como gostaria. Minha timidez e inexperiência nos assuntos de amor levou a isso
e −
novamente meu pensamento dispara ao passado em direção a Verinha –
quando sentou ao meu lado e apertou minha mão tremula por estar ao lado da musa
mais cobiçada do bairro, paquerada pelos “bons garanhões”, o que era impensável
para minha timidez dos 25 anos que me transmitiu um complexo de humildade e pequenez
que não conseguiu segurá-la, deixando-a
cair em mãos mais maduras... Retornando em disparada ao presente, completo: “Por
hora procuro uma nova meia metade. Quem sabe não a encontro por aqui? Não
precisa ser de laranja, inclusive prefiro de maracujá, que em vários países é
conhecido como fruto da paixão”.
Mirando
Monica, vejo seus lábios carmim se abrindo num sorriso dizendo:
−
Maracujá é também minha fruta predileta! Dizem que tem “cara do verão” que é a
estação que mais gosto. O nome vem do tupi - mara kuyiá – que significa
“alimento na cuia”. Tem vários tipos, cores e sabores: de casca enrugada, casca
lisa, meio doce, meio azedo, amarelos, roxos, verdes assim como eu com minhas
manias – várias em uma só pessoa que torna o convívio não muito fácil. Aprecio também
seu óleo usado na produção de cremes e loções, pois amacia e hidrata a pele, deixando-me
bem-disposta e cheirosa.
Suas
palavras me empoderam de forças, que exterminam de vez qualquer vestígio restante
de timidez e me dão confiança para blindá-la de olhares alheios mal-intencionados.
Concluo:
− Eu
também tenho várias manias! Mas o efeito tranquilizante do maracujá acalma o
sistema nervoso, apazigua os ânimos e deixa tudo na boa... E não vamos esquecer
da flor de maracujá! Contrasta muito bem com seus cabelos negros. Não precisa
de véu nem grinalda. Vai ser nossa flor da união.
E
fomos comemorar com uma caipirinha, sem limão, só dele, o amado maracujá...
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