Troca de Emoções
Maria
Verônica Azevedo
Perdi
o sono de madrugada. Uma olhada no relógio revelou que eram cinco horas.
Então,
me deu a vontade de ver o amanhecer na praia.
Eu
estava em Salvador para ministrar um curso de Didática para professores. A aula
só começaria às oito horas no salão do hotel.
Vesti
uma roupa leve: bermuda de algodão e camiseta. Desci os dois lances de escada
que levavam à recepção do hotel. Saí em linha reta em direção à praia de
Itapuã.
Com
os olhos no encontro do céu e mar, livrei-me das sandálias afundando os pés na
areia branca e macia. O silêncio era reconfortante. A luz do Sol se insinuava
no horizonte.
Na
praia, as silhuetas dos pescadores, começando a voltar da lida, quebravam a paz
e rompiam o quase silêncio com suas vozes que se misturavam ao rumor das ondas.
Vinham
empurrando, até a arrebentação, os humildes barcos de pesca repletos de
pequenos peixes.
Era
bonito de se ver os garotos ajudando os pais. Ali mesmo separavam os peixes por
tamanho em grandes cestos de palha.
Sentei-me
na areia e fiquei ali observando.
Um menino cuidava de um dos grandes cestos, agachado na areia, observando
o pai que dobrava a rede de pesca.
No instante seguinte o pai o
chamou para comemorar o êxito da pescaria daquele dia.
Começaram um canto ritmado.
O pai se pôs a ensinar ao filho passos de capoeira. A cena me emocionou.
Guardei-a na memória. Meses depois a reproduzi num quadro.
Enquanto observava a dança
de pai e filho, um movimento ao longe, na orla do mar, mostrava uma silhueta
difícil de distinguir.
Fixei a atenção. Aos poucos
percebi a aproximação de um burro com dois grandes cestos no lombo, um de cada
lado e um homem acomodado entre eles, no lombo do animal. Vinha bem devagar
entoando uma canção.
Vendia água de coco.
O Sol já estava forte
suficiente para que o calor me fizesse desejar a bebida.
Ali, no meio daquela cena
poética, me senti bem recebida naquela terra baiana, até então bastante
estranha para mim.
Sai da praia revigorada e
com mais coragem para encarar a tarefa de falar sobre educação para aquele
grupo de cinquenta professores de escolas fundamentais do interior da Bahia.
Uma realidade tão diferente da minha.
Dessa vivência eu mais
aprendi do que ensinei. Foi emocionante a troca de experiência com aqueles
professores que faziam muitas perguntas, mas também emocionantes depoimentos de
vida. E de uma vida desconhecida para mim.
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