Persona
non grata
Ledice Pereira
Cá
estou confinada neste vidrinho minúsculo, isolada de tudo, nadando nessa
aguinha azul sem poder me mexer. De vez em quando, acendem uma luz forte que me
cega e percebo que me observam com lentes grossas presas a um monstro preto gigantesco.
Bem
que me avisaram pra ter cuidado, que podiam me escolher como amostra. Não dei
ouvidos. Achei que jamais seria escolhida. Eu me achava tão insignificante!
Sei
que não estou no meu melhor aspecto, mas procuro ser discreta. Só me aproveito
de corpos debilitados. Também, quem manda ficarem fracos. Vou lá e me reproduzo
mesmo.
Foi
assim que fui escolhida. Estava tão bem instalada naquela faringe. E a dona só
fazia tossir: coff, coff, coff. Achei
que ia me deixar ficar. Não botou nada para me afogar.
Mas
ouvi alguém falando que ela devia ir ver o que estava acontecendo. Foi. E aqui
estou eu, pobre bactéria, morrendo de medo. Coisa boa não irá acontecer.
Sinto-me desfalecer. Acho que é o meu fim. Adeus! Fui!
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