O
ELIXIR DA JUVENTUDE
Ledice
Pereira
Aquele
maldito espelho me mostrava mais uma ruga. Quase quebrei o desgraçado. Parecia
que ele se sentia satisfeito de me apresentar os meus defeitos.
“Aquela
ruga não estava ali nas semanas anteriores” ─ pensei, analisando cada
centímetro do meu rosto.
─ A
idade é uma droga! ─ gritei o mais alto que pude, dando socos na pia do
banheiro.
Fiquei
mal o dia todo. Passei a massagear a danada da ruga a cada minuto, pra ver se
ela desamassava.
Aquilo
não podia ficar assim. Ia procurar ajuda: uma esteticista, um cirurgião
plástico, um mágico. Fosse o que fosse. Eu não ia deixar a idade me vencer.
Liguei
para minha mãe. Ela era sábia. No auge dos meus quarenta e oito anos, eu estava
derrubada, acabada, deprimida. Precisava urgente de um colo.
─ Ligia,
minha filha, você está ótima. Tem um rosto lindo, um corpo bem feito, um cabelo
sedoso. O que você quer mais? O que é uma ruguinha?
─ Mamãe,
você não me entende. Não imagina o tamanho da ruga. O que você me aconselha
para diminuí-la? Conhece algum elixir da juventude?
Minha
mãe caiu na risada, deixando-me ainda mais possessa. Desliguei o telefone
aborrecida. Ela não estava me dando a devida atenção.
Aproveitando
que Sergio viajara a serviço, resolvi pesquisar sobre um produto que fizesse um
milagre durante o tempo que ele estivesse fora.
Encontrei
um perfeito. Atrizes famosas sorrindo mostravam o tubo mágico que acabava com
as rugas em dez dias. Comprei pela internet mesmo. Era um pouco caro, mas
dividi em dez prestações. Valeria a pena! Paguei ainda uma taxa extra para
que chegasse no dia seguinte.
Logo
às primeiras horas daquela sexta-feira, treze, a campainha tocou e lá fui eu,
toda feliz receber minha encomenda.
Uma
bisnaga bem pequena, 50 gramas.
─ Tudo
pela beleza! ─ pensei, dirigindo-me para o banheiro.
Sem
ler as instruções comecei a passar avidamente sobre a tal ruga espalhando em
volta boa camada.
Comecei
a sentir um ardor, que ignorei a princípio, mas que horas depois estava
insuportável.
Fiquei
indisposta. Sentia-me quente. Doía-me a cabeça e a nuca.
Minha
secretária olhou pra mim e deu um grito.
─ O
que a senhora fez, Dona Lígia? Seu rosto está inchado e vermelho?
Corri
para o espelho. Mal pude acreditar no que via, um monstro.
Liguei
para a minha dermatologista que, em vista do meu desespero. Me atendeu daí uma
hora.
Na
sala de espera, peguei a bula da tal pomada e li:
Usar
apenas o correspondente a uma ponta de palito sobre a ruga, sem espalhar.
Deixar dois minutos e lavar com muita água corrente.
Cuidado!
Pode provocar queimaduras.
Seguir
à risca as instruções
Minha
dermatologista ficou muito brava. O local estava em carne viva. E eu com uma
tremenda febre. Foram dias e dias de total desespero e desânimo. Minha mãe,
veio ficar comigo. Não disse nada. Apenas cuidou de mim, seguindo corretamente
a prescrição médica.
Quando,
depois de dez dias, Sergio chegou encontrou-me debaixo das cobertas com uns
óculos escuros. Meu rosto ainda estava inchado e vermelho e eu procurava
esconder.
─ O
que houve, amor? Tá com conjuntivite? Tá com gripe? O que aconteceu?
Desatei
a chorar. Contei a ele o ocorrido.
─ Eu
só queria recuperar a minha juventude.
Ele
não segurou o riso. Joguei o travesseiro nele. Como podia rir de uma situação
trágica como aquela?
Preparou
um Whisky para ele e um Aperol com bastante gelo para mim. E trouxe tudo numa
bandeja, o queijo cortado como eu gosto.
Abraçou-me
do jeito que só ele sabe fazer e disse:
─
Querida, que bobagem, você é linda, tem um sorriso que me conquistou há
dezessete anos. Não dê atenção para as marquinhas que o tempo impõe. Eu te amo
do jeito que você é. Não deixe que uma ruguinha qualquer venha estragar todo
seu encanto.
Fiquei tão comovida que o abracei com lágrimas
nos olhos.
Resoluta,
dirigi-me ao espelho. Olhei novamente minha imagem refletida e, apesar dos
resquícios deixados pela tal bisnaga nada mágica, enxerguei uma linda mulher.
Com
ar vitorioso, levantei minha taça de Aperol e, brindando, com aquele ser
inanimado, disse-lhe em alto e bom tom:
─
Olha aqui seu espelho intrometido, quem desdenha quer comprar. Você tentou derrubar
minha autoestima, mas se deu mal. Serviu para eu perceber que eu me amo e sou
amada! Aposto que você tá morrendo de inveja porque fica aí sozinho, dependendo
da gente chegar até você. Nunca mais vou ligar pra você. De hoje em diante vou
te dar menos atenção.
Virei-lhe
as costas e deixei-o só. De castigo!
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