A
viagem repentina no fim de ano
Fernando
Braga
Viagem
repentina, é aquela não planejada, onde você toma uma decisão rápida para
empreende-la. Geralmente está ligada a um fato ou acontecimento que surge de
repente, mais frequentemente relacionada a um falecimento ou doença grave em um
membro da família, que está distante.
Foi o que
aconteceu há dois anos, no dia 30 de dezembro, dia em que me preparava para
viajar e passar 4 dias em um resort, previamente marcado. Meu filho, mulher e
filhinha iriam junto, em apenas um carro.
Logo cedo,
eis que o telefone toca e um parente comunica o falecimento de um primo muito
querido, em cidade do interior, 430 quilômetros da capital. O enterro havia
sido marcado para o mesmo dia às 16 horas.
Não podia
deixar de ir, éramos muito ligados a este querido primo, filho de um tio
adorado, que alegrou minha infância e mocidade, levando-me a apreciar as
músicas famosas da época interpretadas por Sílvio Caldas, Orlando Silva, Chico
Alves, Elizeth Cardoso e outros mais.
Este
primo, um grande fumante, no começo do ano foi diagnosticado com um tumor no
pulmão, que apesar de todo tratamento quimioterápico instituído veio a
derrota-lo, exatamente, um dia antes do final do ano.
Pedi que
minha mulher fosse para o Resort com meu filho, que eu havia decidido ir em meu
carro, sozinho para o enterro. Era no mínimo cinco horas de viagem. Meti as
caras.
Comi um
lanche na estrada quando o relógio marcava 14 horas, estava entrando no
cemitério. Muitos familiares e conhecidos presentes, quando me aproximava,
vieram em minha direção me abraçar. Exteriorizavam o pesar pela morte, já
esperada e desejada do querido primo, uma pessoa realmente boa gente.
Fui
ao local onde estava o caixão, dei os pêsames à sua esposa e filhos,
aproximei-me do cadáver, alisei seu rosto e dei-lhe um beijo na testa.
Todos
agradeceram minha presença, principalmente após saberem que vim sozinho de
carro, em viagem longa.
Fazia
muito tempo que não via nossa família toda reunida. Muitos conhecidos de longa
data, que também não via há séculos, se aproximaram para conversar.
Várias
coisas notei. A primeira delas é que a família de meu primo falecido não estava
pesarosa, mas até um pouco contente. Logo entendi. Davam graças à Deus por ter
terminado um sofrimento, depois de vários meses daquela tosse atroz, falta de
ar, fraqueza intensa, dor e grande emagrecimento. Foi embora! Sua imagem dos
bons tempos ficará. Sua melhor imagem, agora se cristalizava.
Outra
observação. Amadeu, outro primo, agora com 84 anos, que era um galã nos
bons tempos, estava todo encurvado, enrugado, andando com muletas, mas ainda
conservando o bom humor. O que achei o máximo foi de uma senhora
que se aproximou de mim, cumprimentou-me e perguntou:
- Sabe
quem sou eu?
Olhei,
olhei, não a reconheci.
- Eu sou a
Giovana Mendonça.
Giovana!
-Não
acreditei. Fiz festa parecendo contente em revê-la.
Giovana
era a mulher mais bonita da cidade e a mais sexy, corpo perfeito. Estava agora
magra, muito envelhecida, cabelos rarefeitos, uma verdadeira bruxa.
Como
o tempo é cruel!
Na hora
exata, após a reza do padre, fecharam o caixão, peguei em uma das alças para
carrega-lo até sua tumba, já preparada.
Despedi-me
de todos e contrariando o conselho da maioria, peguei a estrada de volta. Eram
quase 18,00 horas.
Entrei
em contato com minha esposa dizendo que estava saindo. Seriam mais cinco horas.
Queria encontrar minha mulher e filho, que já estavam no Resort, a uma hora de
São Paulo.
Por volta
das 21 horas, plena noite, comecei a sentir a direção do carro puxar para o
lado. Parei e fui examinar os pneus. Percebi que o do lado direito,
da frente, estava completamente murcho. Peguei meu celular para comunicar-me
com a Porto Seguro, presente em qualquer cidade, mas o telefone estava
totalmente sem carga e havia esquecido o carregador. Pensei: - Estou ferrado e
mal pago. Não tinha nem lanterna.
Assim
mesmo tentei trocar o pneu, mas não consegui nem retirar o primeiro parafuso da
roda. Estava tremendamente preso. E agora? Só não adiantava chorar.
Parado,
tentei, mas ninguém parou naquela escuridão, para me ajudar. Entrei no carro,
encostei a cabeça para dormir.
Por volta
das 2300 horas, parou um carro da polícia rodoviária perguntando se precisava
algo. Expliquei tudo e eles em 30 minutos trocaram o pneu. Foram gentis demais.
Por volta
da uma hora da manhã, estava entrando na garagem de meu prédio.
Chegando em casa o que primeiro fiz, foi entrar
em contato com minha mulher pelo celular dela. Quando atendeu, estava muito
tensa, pensando em algo pior, um desastre. Logo comunicou a meu filho, que aguardava
notícias, boas ou péssimas.
No dia
seguinte segui em direção ao Resort. Ao chegar, minha mulher me comunicou que a
sogra de nosso outro filho havia morrido à noite e iria ser cremada às 16,00hs,
na Vila Alpina. Tivemos que ir.
Felizmente
à meia noite estávamos todos juntos no Resort para comemorar a passagem de ano.
Bebida não faltou! Tudo Inesquecível!
O Réveillon foi ótimo, nos divertimos muito.
Espero
não fazer outra viagem repentina, por muito tempo!
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