O pênalti e o amor de mãe
Ises de Almeida Abrahamsohn
Ises de Almeida Abrahamsohn
Já se escreveu muito sobre a angústia do
goleiro diante da cobrança de pênaltis, até existe um filme antigo do diretor
alemão Wim Wenders “ O Medo do Goleiro Diante do Pênalti”.
Porém
menos se escreveu sobre o nervosismo do batedor do pênalti ao se defrontar com
o gol. O sujeito tem que ter concentração absoluta. Os chutes indefensáveis são
os altos e enviesados para o canto das redes. Necessária também aquela ginga:
faz que vai pro lado e vai pro outro...
Mário
conhecia os truques.
Era
um bom jogador no time da escola. Acontecia o jogo decisivo do campeonato interescolas,
realizado em agosto na pequena cidade de São Joaquim. O frio era intenso, mas a
meninada nem sentia.
Estavam
na prorrogação e era a última chance do time fazer o gol da vitória. Tinham
jogado bem, mas o outro time era forte. E a chance apareceu... Falta feia no
companheiro, o juiz apitou e indicou penalidade máxima. E lá foi Mário
escolhido para a cobrança.
Mário
tinha ensaiado o chute muitas e muitas vezes. Sabia que era bom nas cobranças.
Posicionou-se. Alguém na assistência gritou: Vai Mário! Do time contrário
alguns assobios e gritos que ele nem ouviu. Aprontou-se, até fez o sinal da
cruz e esperou o apito.
Ao
silvo estridente pegou o embalo. O pé já estava no ar pronto a bater na bola
quando de repente na direção do canto esquerdo viu a mãe agitando
freneticamente algo vermelho.
Ninguém
do time e da assistência entendeu o chute desastrado: a bola desviou e passou
rolando à direita do gol.
Mário
ficou petrificado. Pouco se mexeu nos últimos dois minutos da partida que
poderiam ter ganho se.... Os companheiros o olharam desconfiados, mas o vexame
seria maior se tentasse explicar o motivo do malogro.
Depois
da partida o garoto de 13 anos encontrou a mãe. A inoportuna senhora trazia o
agasalho que Mário havia esquecido em casa. Com aquele frio intenso era certo
que o filho iria ficar gripado ou mesmo pegar uma pneumonia. Saíra correndo de
casa até a escola para levar o casaco. Mário, revoltado, nem quis falar com a
mãe. Só pediu para ela não ficar o tempo todo no pé dele e em casa se trancou
no quarto. Ficou traumatizado por um bom tempo. Não podia ver cobranças de
pênalti, nem na televisão.
Mário
continuou a jogar futebol, mas não voltou a cobrar pênaltis.
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