BATE-PAPO AO PÉ DO OUVIDO
Ledice Pereira
─ O que você está fazendo,
vovó?
─ Estou aqui arrumando a roupa do vovô. Pegue
ali na caixa de costura uma linha preta. Vou pregar botão nessa camisa que está
no braço da cadeira.
─ Você gosta de costurar, vovó?
─ Pra dizer bem a verdade, não gosto não, mas
não posso deixar a roupa do vovô de qualquer jeito. Olha só quanta casa sem
botão. Os botões caíram e o vovô nem me avisou.
─ Casa, vovó?
─ É. Esse buraquinho onde prendemos o botão
chama-se casa.
─ Que engraçado, eu não sabia...
─ Laurinha, por favor, meu amor, apanhe esse
botão que caiu aí no pé da mesa.
─ Pé da mesa, vovó, você fala cada coisa
engraçada. Ouvi a campainha tocar, quem será?
─ Vá ver, Laurinha, mas não antes espie quem é,
pelo olho mágico.
─ É o papai!
─ e Laurinha abriu a porta, dependurando-se no pescoço dele.
─ Oi, meu amor, o que está fazendo? Está com
as maçãs do rosto tão rosadinhas...
E ela toda orgulhosa:
─ Estou ajudando a vovó. Ela vai costurar toda
essa roupa que está no braço da cadeira. E eu estou aprendendo, sabe, papai?
Ernesto ficou ali sentado ao pé da escada,
admirando as duas e pensando com seus botões:
“Que incrível essa ligação entre neta e avó. A
diferença de idade entre elas é inexistente. Verdadeira magia que as iguala” ─
e lembrou-se dele mesmo, quando pequeno, e da relação afetiva que tinha com
seus avós.
Tentou disfarçar, enxugando uma lágrima
indiscreta que insistia em denunciar a emoção que se apoderava dele naquele
momento.
─ O que aconteceu, papai, você está chorando?
─ Não querida, acho que entrou um cisco aqui no
canto do olho.
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