MÃO DE GANCHO - M.luiza de C.Malina

 


MÃO DE GANCHO
M.luiza de C.Malina

Sonhei que era o dia do meu aniversario. De repente já estava na casa da praia, levei um amigo.

Já estávamos à beira do mar, quando uma onda enorme onda encontrou-me. Ela me envolveu.

Não via mais meu amigo. Nadei, nadei muito e encontrei um cachorrinho que estava perdido. Abracei-o e continuei a nadar até encontrar um homem no alto de uma parede que me perguntou o que eu queria. Disse-lhe que estava perdido e precisava trabalhar, eu e meu cachorrinho.

Pediu que eu subisse uma escada alta de madeira, escada tipo modelo de pintor.

Subi. Lá em cima ele me mostrou o meu trabalho de ajudante. Tinha que trabalhar com cobras.

Ele tinha uma mão de gancho.


Acordei assustado.

O Segredo do Cofre - Vera Lambiasi


O Segredo do Cofre                                                          
Vera Lambiasi


Havia sim um cofre, mas nada de joias, dólares ou euros.
Só quinquilharias, lembranças de viagens, selos melados e moedas enferrujadas.

Por isso, permanecia entre o 85 e o 86, a meio ponto de abri-lo com a chave.

A família inteira sabia. E a ordem de “pega lá no cofre” era dada como se fosse na prateleira da cozinha.

Até que um hóspede descuidado deixou que o neto brincasse, girando o mostrador circular. O menino foi e voltou inúmeras vezes, achando engraçado o barulhinho.

Pego pelo dono da casa, só sorria, não imaginando o transtorno.

O segredo estava num papelzinho rosa, do fabricante, entregue junto com o monstro verde de aço.
Enfiado em alguma gaveta, jazia sem esperança de ser encontrado.

A dona da casa matutou, matutou, e, exausta de tanto vasculhar, adormeceu.

Na manhã seguinte, acordou cedo, vestiu seu penhoar, e foi direto ao armário, dentro do livro sonhado.


Num catálogo de médicos do convênio, descansava o cartão desbotado da Fiel.

Curiosidades sobre os sonhos

A louquinha vem aí ! - Oswaldo Romano


A LOUQUINHA VEM AI
Oswaldo Romano           
                                                           
        Amélia  foi criada numa família de colonos na Fazenda Dona Odete, nos altos da Zona da Mata. Menina linda, seus pais a chamavam de  princesa.

        De espírito atravessado dava trabalho e preocupação a família. Vivia aprontando todo dia, provocando a maior zorra. Menina, quase adulta vivia pelos cafezais provocando os homens. À distância levantava a saia, mostrava-se, e escondia-se atrás do pé de café de onde havia saído.  A danada carregava a beleza de uma gata, e como esta, desaparecia. Quando pintava lá no alto, logo se ouvia de alguém: A louquinha vem ai!

Amélia desde a infância curtia o hábito de se apresentar como madame da sociedade. Às vezes coroava-se e desfilava como rainha pelas imediações

        No ano de 1.928 apareceu por lá Francisco, solteirão, ex-funcionário público,  vulgo Chico Brasa.   Era dono de uma pequena fazenda no Vale das Cotias, distante 20 quilômetros.

        Chico Brasa comemorou ter encontrado seu pedaço como sempre sonhou. Ele era abonado e ela cheia de galízias. Juntou a fome com a vontade de comer. Unidos, Chico já não ficaria só na sua fazenda. Depois de algum tempo juntos Amélia que carregava meneios provocantes, já não era a mesma. Lembrava o passado deixando-a  num estranho e profundo ostracismo.

        Certo dia Francisco voltando da invernada, chegou queixando-se da perna. Estava entumecida, tinha reflexos com pontadas de estranha dor. Altas horas sentiu-se mal, e com dificuldades chamou Amélia.

        Amélia ao passar álcool no local da dor, viu duas picadas. Não ficaram dúvidas, eram de cobra. Depressiva como estava, deixou que acontecesse, o que quer que fosse. Calou-se. Longe da cidade deixaria para o amanhecer a procura do socorro.

         Voltou a dormir e de manhã o marido não respondeu seu chamado. Estava morto. Foi picado por uma terrível Coral. Seu veneno anestesia a vítima, causa um bloqueio e mortal parada respiratória.
        Viúva, herdou a fazendinha, logo vendendo-a, e partiu atrás de uma nova vida numa sociedade melhor.

        Mudou-se para o interior de São Paulo, e com o mesmo dinheiro adquiriu outra fazenda, e um novo e luxuoso carro. Fez um bom negócio, mas ninguém lhe disse que as terras da fazenda estavam exauridas.
       
                                                                                                              Exibia-se pela cidade, desfilando com seu novo Rolls Royce, azul marinho, interior vermelho e no volante um motorista azeviche, terno branco as ombreiras seguravam galões dourados.

         Perguntado quem era a dona, o chauffeur respondia prontamente:

        — É a baronesa Amélia.

Ele também era enganado.

        Assim entrou no fechado círculo dos quatrocentões, os  Barões e Baronesas do café. Perguntada sobre seu perfume, dizia ter trazido alguns de Paris, no seu retorno. Sua temporada na França foi para esquecer a morte do seu marido o Barão de Paraguaçu.
                                               II
        Na cidade, era costume alunos do colégio depois das aulas, frequentarem a estação. Apreciavam a chegada e a interessante partida do trem das quinze, um trem de luxo. Certo dia a composição que passava com destino a Petrópolis, assim que parou, descem das portas soldados armados com carabinas, e se postam vigiando quem desce e quem sobe.
        Atitude incomum chamou a atenção dos alunos. Ao pesquisarem o que acontecia ficaram surpresos com o que ouviram.

        — No trem, viajam importantes personalidades.

        — Mas, quem?  Aumentou a curiosidade dos estudantes.

 O meganha respondeu. — O Governador, a Baronesa Amélia e seu marido o Barão de Paraguaçu. Vai haver uma importante reunião no Palácio Quitandinha.

        Pedrinho, o mais curioso do grupo, admirado disse:

        — Muito estranho, soldado! Quando saímos da cidade eu vi a Baronesa Amélia posando no seu carrão!

        — Impossível garoto. Eles estão neste trem.

        — Meu avô tinha razão. Ouvi ele falar:  Essa ai engana só trouxas! Não tem a linhagem de Baronesa, nem aqui nem no inferno.
        Ele tinha carradas de razão.                                                               
        Foi denunciada ao Ministério De Amparo Aos Protegidos, cortaram seus  proventos e para viver foi vendendo seus bens. Sua fazendinha há tempos no abandono estava engolida pelo mato. O governo, implacável, a desapropriou  para cobrir sua dívida com o Imposto Sobre Propriedade Rural.

        Passou a viver das lembranças do passado. Entregou-se forçada a pobreza, parecia uma feiticeira. Deprimida vagava com seus sapatos tortos pelo uso, coberta com seu mantô gola de pele, sujo e ensebado. O chapéu coco surrado, mantinha na lapela uma pena espetada. Cabelos escorridos como os pelos de um cachorro molhado.

        Vagava pela cidade, ficou sendo chamada ironicamente de baronesa, uma baronesa esfacelada.  


As coisas mudam para melhor ou para pior. Na maioria das vezes depende apenas de você” (anônimo)

O CAÇADOR DE DRAGÕES - Jeremias Moreira



O CAÇADOR DE DRAGÕES
Jeremias Moreira

Sua mãe era uma doceira de mão cheia. Quando criança, ele saia com um tabuleiro de doces para vender na rua. Via as outras crianças brincando nos parques, passeando de carro, nas saídas das escolas com seus uniformes bonitos e sentia-se humilhado. Cresceu e a vida não mudou. Na escola vivia à margem das pessoas que admirava. Não tinha a atenção das garotas por quem se interessava. Achava-se um menino pobre numa escola de ricos.

 Não queria aquilo e não via futuro na vidinha que levava.  Aboletou-se na boleia de um caminhão e aventurou-se pelo mundo, como ajudante. Encontrou no motorista um filósofo de botequim, que soltava frases assim: “O homem que combate dragões, torna-se dragão*“ ou “A audácia tem dentro dela genialidade, poder e magia; O que você pode fazer, ou sonhar que pode, comece já**”. A fala do homem contaminou Juca Bala, que interpretou à sua maneira.

Decidiu que seria audacioso e um caçador de dragões.

Desenvolveu uma psicologia interior de que poderia ser quem desejasse e levou isso às últimas consequências. Não mediu esforços nem colocou freios morais. Passou-se por olheiro da seleção brasileira de futebol, guitarrista da banda Legião Urbana, campeão de jiu-jitsu, chef de cozinha do Maksoud Plaza. 

Conseguiu trabalho numa empresa de taxi aéreo onde aprendeu o básico sobre pilotar e acabou se tornando piloto de avião a serviço do contrabando e do narcotráfico nas fronteiras do Brasil, Paraguai e Bolívia. Preso pela Polícia Federal conseguiu se passar por refém e na condição de vítima, foi solto.

Mas estava enredado num caminho sem volta. Na sua odisseia, cruzou com muita gente que queria ser. Gente rica. Tinha um fascínio pelos ricos, que acreditava serem diferentes dos demais seres humanos. Descobre os ritos, os enredos, os excessos e as loucuras desse mundo. Juca Bala é um bólido sem freio. Aprende os códigos dessa vida e consegue se inserir nesse mundo de vips e celebridades.

Apareceu na Festa do Peão de Barretos como Eduardo, filho caçula de Zico Torres, o maior exportador de carne do mundo e patrocinador daquele evento. Por motivo de segurança a família Torres não se expunha. Então, ele supôs que ninguém conhecia o verdadeiro Eduardo. Estava certo e, como Eduardo, foi o centro das atenções. Era convidado para todos os eventos. As mulheres disputavam sua companhia, e foi entrevistado pelo apresentador Amaral Jr, da TV Bandeirantes. Antes não fosse. Dudu, um de seus ex-colegas “rico” do colegial viu a entrevista num circuito interno da feira e o reconheceu. Foi a sua procura na festa onde acontecia a entrevista. Na verdade Dudu foi à busca de aventura. Desejava aproveitar a farsa do conterrâneo e entrar na onda.

Barrado na entrada, ele pediu que chamassem o Eduardo Torres. Juca Bala foi atender. Quando se viu cara a cara com Dudu uma vida passou pela sua cabeça. Veio-lhe à mente quando era um rapaz pobre num clube de estudantes ricos. Desde então percorrera muitos quilômetros, combatera dragões e tornara-se dragão. Lembrou-se que o homem comum não espera modéstia das pessoas superiores. Olhou fixamente para Dudu e falou:

− De onde você acha que me conhece?

Dudu sentiu o olhar duro e frio de Juca Bala. Intimidou-se:

− Acho que cometi um engano. Desculpe! − afastou-se.

Juca Bala incorporou novamente o Eduardo e voltou para a festa.

      * Lacan

** Goethe

Baronesa de Sabugosa - José Vicente J. de Camargo


Baronesa de Sabugosa
José Vicente J. de Camargo

O campinho de futebol de todas as tardes após as aulas do Grupo Escolar ficava em frente ao solário da baronesa. A molecada do bairro começava a se reunir as três da tarde à medida que ia terminando a lição de casa e ganhando das mães a licença pra pelada.

Um dos participantes era Alfredinho, filho da cozinheira da baronesa e muito amigo de todos, pois, sempre trazia uns petiscos que estavam dando sopa na geladeira e na dispensa da cozinha. Em troca pedia para jogar no ataque e se livrar do gol onde, pelo seu porte avantajado, era a posição reservada a ele pelo capitão do time.

Na espera da chegada de todos, nos intervalos e nos finais das partidas, enquanto mastigavam os “comes” trazidos por Alfredinho, comentavam os mexericos ouvidos das mães, pais e irmãos sobre o pessoal do bairro principalmente da mulherada. Quanto mais cabeluda fosse ─ daquelas de pular a cerca, pegar em fragrante no agarra-agarra, aborto forçado, sair do armário ─ mais admiração o contador recebia, com direito de levar pra casa a revista ou as figurinhas de sacanagem roubadas de irmãos desatentos.

Nesse conta-conta picante, Alfredinho não deixava por menos e entrava logo com os falatórios  que ouvia das empregadas da baronesa, inclusive sua mãe, sobre as visitas que recebia, dos cavalheiros desacompanhados, quem por último saía. Pelo tamanho do decote usado, pelo menu servido, pelo lugar reservado na mesa, os serviçais já sabiam se a visita era mais ou menos a preferida da fidalga. A curiosidade se multiplicou quando contou a história da copeira:

Após servir varias doses de absinto a um conviva, ouviu- o comentar com outro, que de baronesa ela só tinha o nome, já que a fama, nos confins do sertão da Paraíba onde nasceu e viveu até se amigar com o Coronel Medeiros de quem herdou os bens e o título falso, era de boa de cama e tão fogosa que a apelidaram de “Baronesa de Sabugosa” dado ao apreço que tinha por um bom sabugo no rabo. Boatos de sua participação no “nó nas tripas” que vitimou o Coronel também iam se alastrando até que ela, ameaçada pelos herdeiros legítimos do Coronel, foi obrigada a mudar-se o mais longe possível vindo parar nessas bandas de cá.

Aqui se fez mecenas da igreja, benfeitora dos miseráveis, dama respeitável como se o passado em pó virar pudesse. Mas coitado daquele que tentar mexer nesse vespeiro. Manda logo recado para uns jagunços que lhe devem favores, pra atravessar a faca no bucho do atrevido.

Ouvindo isso, o capitão do time vibrando anuncia:

─ Tenho um plano! Vamos pegar a tal baronesa no pulo...

Já que ela tá tramando com o prefeito de fechar o campinho de futebol pelas algazarras e brigas que perturbam sua sesta, vamos desmascará-la de sua falsa nobreza e moral.

Vou pedir pro meu primo Tonico, recém- chegado do Rio, metido a conquistador de coroas e fugitivo da policia por ter dado o golpe do baú em muitas, que se apresente a baronesa como banqueiro interessado em investir num shopping  bem no terreno do campinho. O Alfredinho peça a sua mãe e aos demais empregados que comentem com a patroa a noticia da chegada do novo investidor, de boa pinta, que está a procura de um sócio e que gostaria de conhecer a baronesa. Os demais vão espalhando a noticia em casa e pela vizinhança.

Naquela tarde a bola não rolou e todos saíram com as tarefas que receberam na esperança do campinho sobrevier aos caprichos da grã-fina, agora já tida como rameira do sertão das paraíbas...

O planejado correu de vento em popa!

A baronesa super interessada  – já sonhando com sua sesta sem perturbações da ordem ─  mandou um recado ao carioca investidor convidando-o para um jantar de negócios incluindo na efeméride o prefeito, o pároco da matriz, o diretor da agência do Banco do Brasil e alguns fazendeiros e industriais da região que ainda não estavam inadimplentes com seus credores.

A noticia caiu como uma luva não só na turma da pelada, já imaginando a permanência do campinho por muitos campeonatos mais, como também no prefeito sonhando com um  aumento substancial da arrecadação de impostos, do cônego no alivio de ter enfim um patrocinador de peso para a reforma da igreja e nos eventuais sócios que estavam mais preocupados  na procura de uma taboa de salvação onde pudessem se agarrar antes do naufrágio definitivo.

Tonico vestindo seu terno de linho branco – passado pela mucama do hotel em retribuição aos  afagos – e levando nas mãos o buque de rosas vermelhas ─ surrupiadas da floricultura do japonês pela molecada ansiosa ─ é recebido pela baronesa, ansiosa em saber quando se iniciaria a construção do único shopping de toda a região.

Tonico lança a jogada costumeira: Com charme e sotaque carioca, inicia falando do seu faro de perdigueiro em descobrir novos negócios, onde ninguém imaginava ser possível. Já negociou com bons lucros, da extração de água cristalina da terra estorricada pela seca até a venda de jazigos de luxo aos jagunços das caatingas. No Rio, sua terra natal, vai entrar na moda e iniciar a venda de viagens a marte com parada na lua. A procura por informações já é grande e só aguarda a confirmação dos gringos sobre a instalação das naves espaciais.

─ Que instinto empreendedor, comenta a baronesa. É um segundo Barão de Mauá...

─ Longe de mim tal pretensão, emenda Tonico. Mas o pessoal mais íntimo me chama de rei da pamonha...

─ Oh! Tem negócios também com milho? Exclama a baronesa.

─ Bastante! Acrescenta Tonico torcendo a ponta do bigodinho aparado na medida para as cocegas eróticas:

─ Tenho vastas plantações de milho nos sertões da Paraíba. As minhas espigas são as mais requisitadas da região, de bom tamanho, inclusive é muito apreciada pelas senhoras que até usam o sabugo para...

─ Basta! Diz logo a baronesa levantando-se ruborizada e mordendo a língua de raiva:

“Essa história de shopping está encerrada! O jantar também!”

E chamando a copeira manda tirar a mesa e acompanhar os visitantes até a porta.

Dia seguinte a molecada em peso, inclusive dos bairros vizinhos, em aplausos e gritos de “gol-gol” se acotovela em frente ao hotel para a despedida de Tonico. Este agora não foge da polícia com os bolsos cheios da grana das matronas enganadas, mas sim dos jagunços da baronesa com a peixeira afiada.

Mas no íntimo Tonico respira contente lembrando-se dos tempos de infância e das peladas na várzea. Não tinha baronesas para atrapalhar, mas seu Antônio que não podia ver bola que não furasse a canivete pra choradeira e palavrões da meninada empobrecida:

“Alegria de criança não se tira! É obrigação de todos oferecer e conservar”

Lembra sorrindo das frases de seu avô, que lhe fazia estilingues para jogar pedras nas vidraças de seu Antônio...


ONDE ESTÁ O PERIGO MAIOR - Oswaldo U. Lopes


ONDE ESTÁ O PERIGO MAIOR
Oswaldo U. Lopes

            Era jovem, impetuoso, cheio de fé, crente que poderia salvar não o mundo, mas as almas nele contidas e também, pároco de aldeia.

            Traduzindo em miúdos era o padre, único padre de uma pequena cidade que certamente era maior que uma paróquia, mas não muito.

            Ah! É bom saber tinha 26 anos de idade, pensava que podia reprimir hormônios com a fé. Ledo engano, diria Camões.

            Ela era bonita, jovem. Elegante e tinha o andar suave que muitos comparam aos felinos, mas causava sensações, sobretudo no sexo oposto, que, nunca gato ou onça conseguiriam. Praticante, confessava-se regularmente coisa que seu marido, o promotor não fazia, envolto em processos e política. Diziam até que ele descuidava dela, se me entendem...

            Quando ela se aproximava do confessionário, o jovem pároco podia senti-la de longe, o perfume, o andar, as curvas e o desejo... Dele! As confissões se tornaram mais regulares, frequentes,  e os corpos jovens se aproximavam a um limite que se podia prever para breve o encontro carnal e o perigo.

            Ele alucinado, mal dormia, tresnoitado todo abatido pensando em encontrá-la, fugir com ela, e no mal que aquilo causaria nas almas pelas quais se sentia tão responsável.

            Havia perto dali uma fabulosa cachoeira que era conhecida como do Apagão, dizia-se que muitos dela se jogavam acometidos de um súbito apagão. Ele rezou a missa pela manhã, pediu perdão dos pecados e saiu caminhando para a cachoeira. Contemplou-a por alguns momentos, sob a luz de um céu fantástico e saltou.

            A mão de Deus acompanhou-o, não para salva-lo num impressionante milagre, mas para que sua alma fosse naquela mesma noite dormir no paraíso, como Cristo prometeu a Dimas no momento máximo da paixão.

            Lá no mundo etéreo as coisas não ocorrem como descreveu Dante. Não há amantes no inferno. A misericórdia divina é infinita para aqueles que se perderam por amor.

            

SEM RASTROS - Carlos Cedano


SEM RASTROS
Carlos Cedano

Era a primeira vez que a exótica mulher aparecia no Instituto de Beleza. Quem é ela?  Você a conhece? As senhoras indagavam, e ninguém sabia responder. Sua figura e beleza impressionavam. Nos encontros seguintes foram acontecendo aproximações. Seu nome era Astrid, seu pai era alemão, descendente de um barão do Antigo Império, que conheceu sua mãe Claudia na França onde ela estudava.

— Que a trouxe a nosso país? Perguntou uma delas.

— Além de conhecer o país de minha mãe, trabalhar aqui como psicoterapeuta -  respondeu com um sotaque francês acentuado.

Dias depois apareceu nos jornais o anuncio da Doutora Astrid Rilke oferecendo seus serviços de Psicoterapeuta com especialidade em análise de vidas passadas e técnicas de relaxamento. Um cardápio muito atrativo, para mulher nenhuma botar defeito!

O consultório rapidamente encheu. A doutora tinha perspicácia suficiente para identificar e selecionar as mulheres casadas com pessoas influentes e ricas. Em pouco tempo já ganhava uma grana preta.

Quando as pacientes insistiam em convidá-la para seus eventos sociais ela gentilmente recusava explicando não ser conveniente, que poderia afetar sua objetividade na relação terapêutica. Isso também explica minha ausência no instituto de beleza completou. Cada passo da doutora tinha sido cuidadosamente calculado!

Passou a ser comum nos acontecimentos sociais que os papos femininos girassem em torno de sua pessoa. Ela me falou — disse uma das pacientes — que estou progredindo rapidamente, que estou lidando bem com minhas angústias e ansiedades! Outra comentava que após algumas sessões sentiu-se deprimida, mas que a doutora lhe explicou que inicialmente isso era normal, que depois dessa fase se sentiria melhor! Ainda outra comentava que após algumas sessões sentia-se leve e feliz e que até seu relacionamento com o marido tinha melhorado. A doutora Astrid era unanimidade,  e como era maravilhosa!

Os filhos perceberam a excitação e cochichos exagerados entre as mães embora não ficasse muito claro pra eles de que se tratava. Sabiam que a francesa estava no meio do rolo, mas sem conseguir precisar o quê. Algo não estava certo com essa mulher, sentiam algo de falso e exagerado nela.  Os jovens decidiram fazer alguma coisa, a primeira seria ficar de olhos e ouvidos bem abertos!

Souberam que morava numa casa pequena e confortável numa vila afastada da cidade e também quem era a empregada que tomava conta da casa. Passaram a segui-la quando saia pra fazer compras. Uma menina do grupo conseguiu aproximar-se dela e com jeitinho e paciência ficaram amigas.

O grupo reuniu-se novamente pra avaliar o que já sabiam. As informações mais quentes foram trazidas pela menina: em casa a suspeita não falava com sotaque estrangeiro, mais parecia ser carioca e quando saia de casa parecia outra pessoa com peruca, roupa chique e com lentes de contato verdes! 

O menino que parecia ser o líder, disse:

        — Acho que estamos no caminho certo, mas precisamos ter certeza de que é uma mentirosa, necessitamos de provas!

        — Só se invadirmos a casa dela! Disse outro dos jovens.

        — É isso que faremos! Disse o líder.

— Se ela quase nunca sai de casa será difícil, ponderou outro jovem.

A oportunidade caiu no colo do grupo! A doutora Astrid comunicou a suas pacientes que precisaria ausentar-se por uma semana para participar num seminário na capital. As sessões estariam suspensas durante esse período.

Logo após sua partida os meninos invadiram a casa. Conseguiram achar carteiras de identidade falsas com a mesma foto e nomes diferentes e um passaporte com evidencias de ser falso. Nenhum diploma de psicoterapeuta foi achado, somente um diário cuja leitura revelou que anos antes tinha trabalhado como vidente.

Os jovens reuniram seus pais e lhes fizeram um relato completo e mostraram as provas. Não foi difícil concluir que se tratava de uma vigarista que tinha enrolado as senhoras com esse papo de psicoterapeuta!

— Ingênuas! Exclamou um dos maridos.

— É verdade respondeu outro, mas precisamos ser muito prudentes e cuidadosos no modo que vamos agir. Muito cuidadosos!

Para desespero das pacientes, a doutora Astrid nunca voltou. Indagaram entre elas, com os maridos e outras pessoas, mas ninguém sabia de nada. Ela tinha se esfumado sem deixar rastos! Na casa dela as coisas estavam como as deixou. Segundo a empregada nada parecia faltar.


Passados dois anos um dos pais ligou para outro do grupo e disse-lhe suscintamente: Pedro veja a íntegra da condenação proferida por pelo juiz sobre nosso assunto na Pagina 272 do Diário Oficial de hoje. Bom dia!

Bendita sogra - Fernando Braga


Bendita sogra
Fernando Braga

Viviam como dois passarinhos apaixonados, ele com 26 e ela com 22 anos. Moravam no interior e logo tiveram duas filhas, com pequena diferença de idade. Bem na hora em que ele estava crescendo em seu negócio, foi vítima de um tumor maligno, que em pouco mais de seis meses, levou-o ao óbito. 

Ainda bastante jovem, com 30 anos, guardou um luto de dois anos, quando então se mudaram para São Paulo, vindo morar com seus pais, tio e irmãs, prometendo consigo mesma, em memória de seu marido, que tanto amou, não se aproximar jamais de outro homem. Suas filhas cresceram, estudaram e a mais nova, com apenas 18 anos casou-se com um médico recém-formado, de boa família.

 Logo engravidou, mas, foram avisados pelo obstetra que havia entre eles, uma   incompatibilidade  sanguínea ou seja, ela era RH negativo e ele era positivo. Havia a possibilidade do feto ter problema, ou conseguir sobreviver, mas logo após nascer, teria que receber  uma  transfusão, dada a debilidade sanguínea, que iria advir em consequência dos anticorpos que se formariam,  contra os glóbulos vermelhos do feto.

Como médico, ele sabia da gravidade da situação, o que foi bem explicado para sua esposa A gestação continuou, mas com seis meses ela abortou, certamente pelo problema presente. Aquilo virou de ponta cabeça os dois, que adoravam criança e perderia para eles, o sentido da vida. Tinham que evitar de toda a maneira uma nova gravidez. Tudo foi possível com o uso do Diu e depois com as pílulas anticonceptivas.

Sua irmã, que havia se casado depois, já tinha um filho e já estava grávida do segundo, o que fez com que Cecilia mais se desesperasse. Gostava demais de seu sobrinho, que era um doce, mas sentia-se frustrada o que era confidenciado a Otavio, seu esposo. A sogra, sua mãe, agora com 45 anos, sugeria sempre a eles que adotassem uma criança, que a casa tornar-se-ia uma grande alegria.

Cecília lia muito sobre adoção e não conseguia esquecer-se da história, em que os povos antigos e depois os gregos e romanos, consideravam a fertilidade vinculada à noção do bem e a infertilidade à noção do mal. O pior era a morte sem deixar filhos.

Ela chegou a receber uma orientação psiquiátrica, tal a piora de seu estado interior de frustração.

Foi quando Otavio, um belo dia aproximou-se dela e confessou-lhe que havia conversado com um colega  Gineco-Obstetra, que havia sugerido que arrumassem uma barriga de aluguel ou melhor, aceitassem uma reprodução humana assistida.

Conversaram longamente, ouvindo uma música suave e dividindo uma garrafa de vinho, para que ela entendesse a situação. Estava difícil de convencê-la, mas criou sentido quando ele disse:

— Pode não usar uma estranha, mas sua própria mãe, que gerou duas filhas sem problemas, está ainda muito, muito hígida, saudável e ainda não fez os 50 anos. Poderia ser a figura ideal, caso ela aceite. Eu próprio seria o doador dos espermatozoides, que seriam colocados em seu útero através de uma inseminação artificial, feita por um colega especialista.

Ela pensou, pensou e finalmente disse: -  amanhã vou falar com ela!

Chegou em sua mãe e enfatizou:

— Mamãe, vou precisar muito de você! Aceite, aceite!

— Aceite o que minha filha?  sabe que faço tudo por você!

— Eu e Otavio, queremos muito que você seja nossa barriga de aluguel. Você poderia gerar um filho para nós, emprestando seu útero, usando o sêmen do Otavio, fazendo a inseminação artificial. A mãe ficou muda, nunca esperando ter que responder a tal convite, mas com a cabeça, acedeu. Foi-lhe explicado o procedimento do começo ao fim. Terminou dizendo:

— Olha filha, não tenho que dar satisfação a mais ninguém nesta vida, desde que seu pai morreu. Aceito e quero ter mais um netinho, e seu. Pode marcar! Pelo que conheço, são poucas, neste Brasil imenso, que são mãe e avó ao mesmo tempo, de uma mesma criança.

Otavio se encarregou de todos os preparativos, exames de sangue, mostrando que sua sogra era RH positivo, portanto sem problemas, além de um check-up geral, dele e da sogrinha.

O procedimento foi feito e o embrião se formou. A maior alegria foi ver crescendo a barriga da sogra, o ultrassom mostrando tratar-se de uma menina, aparentemente sem problemas. Quando iam visitar a sogra grávida, Otavio não se cansava de alisar a barriga volumosa da mesma e beija-la candidamente.

Nasceu uma bela menina, perfeitinha, parecida com o pai, diziam todos! Todos os familiares próximos, amigos da sogra, de Otavio e Cecília vieram fazer visita e ficavam encantados com a menina e muito com o progresso da medicina. Otavio, vendo todo o sucesso, brincava com a sogra, quando todos estavam presentes:

— Sogrinha querida, que tal se continuarmos com a nossa prole, sem inseminação?

Sua mulher, na terceira vez que ele assim brincou, tirou seu sapato e com o salto fino, bateu-lhe fortemente na cabeça dizendo:

— Na próxima brincadeira, com esta piada, vou te dar uma facada no peito! Ele parou por aí.

Na realidade, em seu íntimo, o que ele queria mesmo, era ter engravidado a sogrinha, por depósito direto!  Mas... Sensatamente, bloqueou sua mente. 

AMOR À HONRA TAMBÉM PODE SER GRANDE - Oswaldo U. Lopes


AMOR À HONRA TAMBÉM PODE SER GRANDE
Oswaldo U. Lopes

O amor à honra e a própria dignidade pode ser difícil de explicar, mas nem por isso deixamos de encontrá-lo. Nem sempre depende de situações de conflito para emergir. Embora registrada e contada em guerras, revoluções e momentos de luta, às vezes a encontramos no virar da esquina, no combate de um ser humano que está ou esteve sozinho e num momento, momento muito particular disse não aos fatos e resolveu “pela sua honra” não pactuar.

Rubens era assim, o herói de um momento crucial na sua vida que, no entanto, agora corria sem muito alarde na pacata e em vista disso até conhecida como referência paulista para cidade onde nada acontece, Capão Bonito.  Estamos no ano de 1983, a sombra do chumbo sobre o país começa a esvaecer, mas para Rubens, Capão Bonito ainda é um pesadelo.

Médico com poucos recursos de laboratório, num hospital simples e sem equipamentos pouco ou nada pode fazer. Como ele gostava de explicar agora era especialista em removo-terapia, sempre removendo e transferindo doentes para centros maiores e mais bem equipados. Vivia ali, na condição de semi-exilado, desde o ano de 1972. Onze longos anos, um médico perdido no mundo, com mulher e dois filhos que dependiam dele. Bem, vamos com calma, estamos em pleno século XX, aliás, no seu epílogo. Fernanda, sua mulher, não era mulherzinha de ficar em casa, fazendo serviços domésticos. Formada em física, tinha até mestrado em física nuclear e se preparava para vôos maiores quando aconteceu aquilo. Já tinha se virado e mostrado o seu valor quando Rubens estivera preso. Agora dava aulas de aritmética na escolinha da cidade. Também sonhava com o agito de São Paulo e odiava a modorrenta Capão Bonito.

Mas o que fora aquilo que acontecera meio repentinamente? Rubens tinha um emprego como médico na clínica cirúrgica do Hospital das Clinicas, o da USP, emprego que remunerava mal, era CLT, mas que lhe dava oportunidade de exercer sua extraordinária habilidade cirúrgica e maior ainda  capacidade criativa. Conseguira reproduzir, em animais, com enorme sucesso a cirurgia de transplante do coração. Era figurinha fácil no time de transplantes.

No outro emprego no qual era efetivo, ganhava bem mais e o trabalho não era exaustivo. Médico do Instituto Médico Legal era responsável pelos laudos de causa mortis no serviço de verificação de óbitos. Para os mais sensíveis podia até ser horroroso, mas lá dentro a coisa tinha certa lógica e organização. Os funcionários, todos muito antigos, faziam a autópsia que era acompanhada pelo médico que depois elaborava um pequeno laudo. Era o típico emprego que os chefões da cirurgia arrumavam para os seus pupilos mais promissores poderem continuar seus avanços cirúrgicos, sem passar por dificuldades financeiras.

Onde e quando começaram os problemas? Rubens lembrava mal, mas sabia que fora com o AI-5. Não no começo, mas ao depois, começaram a surgir poli traumatizados, com sinais evidentes de que algo de errado acontecera. O diretor do Instituto fez reunião e deu ordens muito claras para que aqueles casos fossem identificados como atropelamento, grave acidente automobilístico, assaltante morto em conflito com a polícia etc.

Rubens era uma pessoa sensível, mas não merecia ser chamado de politizado. Não gostava dos rumos que a ditadura tomara, mas lembrava de que em 1964, afundado na residência até achara simpática a revolução de março.

Mas a coisa tomou vulto, o número de atropelados, vitimas de acidentes e assaltantes virou avalanche. Num determinado momento a honra e a dignidade começaram a gritar dentro dele, afinal ainda era relativamente jovem e não ia pactuar com aquela monstruosidade.

Começou a elaborar laudos onde frequentemente se lia:

- equimoses pelo corpo compatíveis com ferimentos provocados por agente contuso, (ponta-pé claro).
- lesões nos punhos que formam laços de múltiplas voltas provocadas por cordão fino (fio elétrico ou fio de nylon). Lesões na porção posterior de ambos os joelhos, do tipo contusão hemorrágica de cor azulada, denotando posição forçada e demorada sobre trave horizontal. Queimaduras na região perínea compatíveis com  ação de agente elétrico (pau de arara bem descrito).
- ferimento perfuro contuso com manchas escuras ao seu redor, sugestivo de uso de arma de fogo. (tiro a queima roupa)

No começo demoraram a perceber. Ainda por cima aconteceu um agravante. Atendeu no Pronto-Socorro um ferido a bala (antigo colega) fez o melhor possível, mas não fez relatório especifico e ainda voltou a atendê-lo em sua casa. Aconteceu o inevitável, foi preso e por lá ficou uns seis meses. Não, não sofreu muito, eram bem informados, claro que houve tortura, choque elétrico, mas objetivamente queriam era assustá-lo e de certa maneira conseguiram.

Saiu meio acovardado com vagos sentimentos de revolta. Isso durou pouco, logo veio o decreto exonerando-o do IML e pondo-o para fora do HC. Seus sonhos foram por água abaixo. Por mais que se interessassem os chefões não tinham nenhum poder e um bocado de medo. As vozes que se revoltavam com os desmandos, como a de Rubens ainda clamavam no deserto.

Contava com Fernanda que nunca o abandonara e juntos partiram para seguir a vida. Mais era inevitável, Rubens olhava pela janela, via Capão Bonito e se fazia a mais triste das perguntas:

Valeu a pena? mulherzinha de ficar em casa, fazendo serviços domem removoterapia, sempre removendo e transferindo doentes para centro maiore



GERAÇÕES DESENCONTRADAS - Luísa Helena R. Alves


GERAÇÕES DESENCONTRADAS
Luísa Helena R. Alves

Estavam as três amigas na saída do trabalho, felizes de se encontrarem, após um dia estafante. As três secretarias executivas, tiveram que ter paciência o dia todo com os pedidos dos chefes: além das obrigações propriamente dito, cobravam o cafezinho, a água,  a roupa para o tintureiro, o carro na oficina, o taxi para pegar os filhos na escola, e por ai vai...Que alívio, é sexta feira, podendo tomar o drink favorito! Dão risadas por qualquer coisa,  discorrem sobre roupas, namorados, e tudo o que só as mulheres conseguem achar de assunto. Só uma é casada, mas com alvará às sextas para sair com as amigas. Eis que  entra no bar um homem encapotado, como se o inverno imperasse na primavera! Olhava procurando mesa, o bar está lotado, falação ruidosa, localiza uma mesinha vaga junto a mesa das moças. Senta, e fica olhando-as como quem quer se aproximar. Reparam que é um homem já maduro querendo aparentar menos idade, tinge os cabelos, usa óculos ray-ban, gola da camisa levantada e jaqueta de couro. Chega à mesa a repetição das bebidas que tomavam, olham estranhando o que não tinham pedido.

— Ofereço de coração, não querendo forçar a barra ... Barra?

 — Que barra? -  Não quero parecer intrometido, só quero levar um ”papo”. Levar o que? Para onde? Cochicham entre elas.

—  Se vocês toparem estou com meu ‘’carango” na porta para levá-las  a um lugar melhor  que este è meio “brega’!

— Brega? Que linguagem estranha, será que ele e de Portugal? Nessa confusão, as mocas olharam os relógios e dizem “tchau tio, boa noite, obrigada pelos drinks”. Ele que estava se achando um paquerador com vasta experiência no ramo, teve que admitir “desenxabido” que  a noite havia sido um desastre e, grilado” saiu “borocoxô” pensando :”não entendo! O que mais querem essas moças?”.