MÃE - Antonia Marchesin Gonçalves

 


MÃE

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                Minha vida é complicada, estou lembrando a minha infância, mãe. Lembro bem do carinho que você me deu quando aos sete anos era o dia de entrar na escola, eu muito com medo do que viria, da professora.... Já os colegas, éramos amigos de bairro, a gente jogava futebol, pega-pega, esconde-esconde na rua, era muito divertido.

                Ao me abraçar você me disse: agora você é um mocinho que vai aprender a ler, procure se comportar e prestar atenção, pois escola não é para brincar. Obedeci, querida mãezinha, sempre levei os estudos a sério, você sabe disso. Lembra quando fomos de férias para Portugal, graças ao seu trabalho ajudando o papai nos éramos ricos, acabamos ficando um ano, lá também fui comportado, fiz novos amigos, inclusive conheci meus primos portugueses e todos me chamavam de brasileirinho.

                Voltamos para o Brasil, vocês assumiram de volta a padaria, você no caixa enquanto o papai fazendo pães, doces e bolos com os empregados. É, estávamos muito bem de vida. Não precisavam da minha ajuda, nem dos meus irmãos, para a lida do dia a dia. A escola era prioridade. Depois podíamos brincar e nadar no rio que cortava a cidade. Lembro que você, mesmo grávida, lá estava logo cedo no caixa para receber os fregueses que vinham comprar o pão já na primeira fornada da manhã.

                Ah, mãezinha! O cheiro dos pães e doces da padaria e da sua comida ficou em minha memória para sempre. Aí, nos meus dez anos eu, feliz, nadando com os amigos no rio, recebi a pior noticia da minha vida: “Sua mãe morreu!” . Você tinha morrido no parto do sexto filho, e ele também morreu. Esse fato foi o que mudou toda a nossa vida, minha e dos meus irmãos. A sua substituta, a madrasta era bem diferente, e sofremos muito nas mãos dela, tudo que foi construído por vocês, ela deixou se esvair, mesmo os mais velhos como eu, tínhamos que trabalhar muito e foi difícil estudar.

                Mas vejo que foi isso que me fez um homem forte. Conquistei muito, me tornei um vencedor. Com todos os filhos formados e minha esposa, companheira, que me ajudou muito, era batalhadora como você mãe. Mas me deixou cedo.

                  Ainda tentei um segundo matrimônio. No entanto, a minha companheira também me deixou cedo demais.

                Agora eu estou aqui com vocês, juntos todos nós para a paz eterna.

               

               

Um comentário:

  1. Antonia parece retratos da vida mesmo; texto quase verídico, e boa conclusão no final. Gostei bem!

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