Sobre meu pai - Adriana S. Frosoni

 



Sobre meu pai

Adriana S. Frosoni 

 

Enquanto olho o céu, lembro-me de como costumava ser seu rosto quando você olhava para mim. Andávamos de mãos dadas quando seus ombros não mais permitiam me levar de cavalinho. Você costumava dizer que eu era uma bonequinha.

Não havia medo ao seu lado. Eu fazia planos sem fim e depois descansava no sossego da sua proteção. Acreditei que seria eterno porque gostava dessa ideia, assim como dos seus olhos cor de mel e do sorriso orgulhoso. 

Uma foto talvez pudesse ter eternizado aqueles momentos para os dias que viriam de afastamento e dor. Eu ainda não sabia, mas o tempo e a distância iriam te roubar de mim.

E quando aconteceu, não houve negociação, porque não há exceção quando chega ao fim. No fundo, o amor sempre foi a resposta, mas você esteve tão alquebrado, por tanto tempo, que não pôde perceber a verdade. Lembro-me do seu rosto, do momento em que você partiu; não havia espaço para respirar.

Ainda pude sentir, algumas vezes, sua mão me conduzindo pelo ombro de uma maneira muito peculiar. Você nunca falou muito; não comigo!

Contudo, você se foi antes do que eu esperava e eu fiquei com menos do que precisava. Eu nunca disse o suficiente; não para você!


Nenhum comentário:

Postar um comentário