BOA NOITE, CINDERELA - ANTONIA MARCHESIN GONÇALVES

 

 



BOA NOITE, CINDERELA

ANTONIA MARCHESIN GONÇALVES

 

                Mariza jovem muito atraente com predicados de mis, cabelos ruivos longos, olhos verdes de um brilho estonteante, mas ao mesmo tempo um certeiro raio fulminante. Teve uma infância sofrida e pobre. Na adolescência, por ser ruiva, sofria muitas gozações e preconceitos, apelidos como: água de salsicha, etc. Com isso foi formando o seu caráter, reservada pouco brigava ou respondia, sabia inclusive que sua mãe tinha também certa vergonha, respondia a todos que ela tinha a genética do avô paterno, de origem irlandesa. Já seu pai lhe dava todo o carinho e amor, ao dar-lhe o beijo de boa noite dizia: você será a mais bela de todas, do patinho feio se transformará em cisne esplendoroso.

                E assim foi, tornou-se uma mulher linda, determinada em ser rica, apesar de não conseguir superar o trauma de ser diferente. No ano 2.000 ela conheceu Andrea num barzinho na Vila Madalena, logo perceberam muitas afinidades, inclusive ambas muito ambiciosas, verdadeiras leoas no quesito “ficarem ricas a qualquer custo”. Iam juntas nos barzinhos conquistando muitos homens que pagavam tudo e mais alguma coisa. Andrea sabia do golpe “boa noite cinderela”, convenceu Mariza a fazer parte, a ideia era que as duas frequentassem boates de alto padrão, onde os clientes eram executivos estrangeiros, sempre com muitos dólares e cartões de crédito com ampla cobertura. Começaram a agir, sempre Andrea ficava no bar tomando uma bebida, aí escolhiam o otário, como o chamavam. Só então entrava Mariza, mais vistosa chamava mais atenção, fingiam que eram irmãs, os três conversavam bebendo, mas elas jogavam fora suas bebidas. Ele ficava bêbado rapidamente. Na hora de pagar a conta, elas ficavam de olho na senha que ele digitava. iam para o hotel juntos, lá administravam o pozinho mágico, e o encantado, crente que ia fazer sexo com duas beldades, capotava.

                As duas faziam a limpeza de cartões e dinheiro, em seguida já passavam nos caixas eletrônicos e tiravam tudo que podiam dos trouxas. Ficaram conhecidas na noite, pois sabiam azeitar os porteiros e garçons, depois dividiam em duas.

A afinidade foi tanta, que resolveram investir em imóvel, compraram uma bela cobertura no bairro de classe alta, decidiram morar juntas e aos poucos se apaixonaram. As duas não sentiam qualquer atração pelos homens, principalmente Andrea que durante anos, foi abusada pelo padrasto. E Mariza se enojava com os casados que traem. Formavam a dupla perfeita, conveniente, juntaram ganância, cumplicidade e amor. 

                Certo dia o pato escolhido era um senhor italiano, muito falante, já com certa idade, forte e alegre, parecia muito disposto a gastar.

                Quis ele conhecer mais de uma boate, os olhares delas já se diziam, esse vai render bem. Ele bem alegrinho, foram para o hotel, o esquema delas entrou em ação, ao colocarem o pó na bebida dele, o italiano deu voz de prisão, mostrou o distintivo de polícia federal.  Surpreendida, Andrea tirou da bolsa uma arma pequena, Mariza nem sabia da existência dessa arma, querendo resistir tentou atirar no policial, ele usava colete à prova de balas, então ele revidou em sua legítima defesa, e foi tiro certeiro. Mariza desesperada aos pés da amiga que morreu, instantaneamente, chorava desconsolada em choque. Tentou fugir, porém, do lado de fora outros policiais estavam esperando.

                 Julgada recebeu a sentença de vinte anos onde irá passar na cadeia sem direito a recurso, pois a polícia tinha tudo documentado e filmado, e mais grave a sua comparsa andava armada. Quando sair já não terá a mesma beleza de um cisne e sim de uma pata comum.

 

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