A CIDADE SUBMERSA - Antonia Marchesin Gonçalves

 

 


A CIDADE SUBMERSA

Antonia Marchesin Gonçalves

 

                Giovanna meu nome, como podem perceber sou neta de italianos, eles por parte de pai são originários do norte da Itália, na cidade de Curon no Tirol do Sul, que antigamente pertencia ao Império Austro-Húngaro e com o fim da primeira guerra foi anexada á Itália, o que contarei em seguida, todos falavam alemão e agora falam as duas línguas. Numa das viagens que voltei à Itália resolvi visitar a antiga vila onde nasceram, cresceram e tiveram filhos.

                Nas viagens anteriores não pude vê-la, pois ela estava submersa em um lago artificial, que foi projetado para a construção de uma usina hidroelétrica. No tempo da segunda guerra, só se via a famosa torre da igreja, alta, majestosa. E, sendo de pedra, milagrosamente, resistiu e acabou sendo motivo de reportagens.

Contava minha avó à tristeza de todos os 1.000 habitantes em abandonarem as suas raízes. Ela dizia que ao saberem da notícia houve revoltas e discussões, mas não tiveram como resistir. Chorei muito me dizia, ali tinha toda a sua vida, seus pais, marido e filhos. A casa foi construída por meu avô, aquelas paredes assistiram muitos dias felizes e muito trabalho. A cozinha que ela cozinhara os pães e bolos no forno de lenha, o quarto onde foram gerados com amor seus filhos, o quintal com sua pequena horta que aromatizava os quitutes e o jardim com lindas tulipas e hortênsias, que eram a alegria na chegada da primavera.

                Ao ver o local todo destruído após o lago ser drenado, imagino o sentimento de perda do povo da vila, grande maioria com a indenização conseguiram comprar outra casinha nas cidades vizinhas. Sendo que, o nono e a nona vieram para o Brasil, resolveram mudar radical, eram jovens e corajosos e com os três filhos aqui chegaram. Trabalharam muito, educaram os filhos e tinha paixão pelo país. Nunca quiseram voltar, diziam que seria triste ver as ruínas de sua cidade. Vim visitar o local e através desses escombros sentir o sentimento de perda. Ao andar em cima de pilares, tijolos e fico imaginando as pessoas saindo para irem à igreja de domingo ao lado da torre com o sino avisando à hora da missa, em seguida se encontrarem na praça para por a conversa em dia, para depois irem para suas casas para o almoço de família, normalmente degustar o produto da cassa dos homens, patos, marrecos e coelhos, invadindo as ruas com aromas complementados com um vinho local, assim eles contavam.

                Voltei realizada ao Brasil, de ter visto a minha origem, triste por não entender tamanha estupidez dos dirigentes do mundo em qualquer época, que com os seus egos nunca levar em conta o seu povo.

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