Oswaldo José - Fernando Braga

 

Mais importante que saber operar é saber quando não operar': as ...


Oswaldo José

Fernando Braga

 

Quarentena há quatro meses e meio! Em casa, lemos, ouvimos boa música, filmes na TV e ouvimos as notícias sobre o Covid 19 e de nossa política instável, sem rumo. Hoje detectamos o segundo lugar no mundo em número de contaminados com este vírus, cerca de 2,5 milhões de casos e mais de 106.000 óbitos pela doença. Já se fala na vacina russa, de Oxford e até de um soro de cavalo, brasileiro.

 

Lembrando-me sempre de dois grandes amigos, o Zé Osvaldo e o Oswaldo José, famosos neurocirurgiões, profissionais éticos, capacitados, acima da média, que trabalharam na mesma universidade federal, onde se formaram. Tiveram uma vida universitária bem ativa, grande produção científica, mãos cirúrgicas de primeira. Com nomes invertidos distinguiam-se em um ponto. O primeiro, era um gozador de primeira, “that liked to tease” em inglês, que não perdia a chance de inventar histórias, que os outros acreditavam, mas que não passavam de um “Primeiro de Abril”. Seus colegas, amigos e mesmo parentes ficavam desconcertados. Embora todos soubessem desta característica, sempre caiam em sua trama. Entretanto, não deixavam de admirá-lo.

 

Oswaldo José, por outro lado, muito sério, detestava gozações e era o tipo certinho, igualmente muito admirado.

Ha cerca de um mês, soubemos que José Osvaldo, mantendo seu trabalho em vários hospitais de São Paulo havia sido internado  com Corona vírus e estava em UTI, entubado e sedado. Isto muito nos entristeceu e ficamos na torcida desejando sua melhora rápida. Entramos em contato com seu filho que diariamente nos fornecia dados médicos, sem que pudéssemos visitá-lo. Eu, certamente não poderia em nenhuma hipótese tentar me aproximar, embora fosse meu desejo.

 

Há cerca de uma semana, tendo tido melhora da pneumonia, sua sedação foi suspensa, mas no dia seguinte, novamente foi entubado, traqueostomia feita devido a uma nova pneumonia por bactéria resistente hospitalar. Seu sistema circulatório, o coração de um idoso já com 80 anos entrou em falência, com a pressão mantida através de noradrenalina. Ontem pela manhã tivemos o comunicado de que sofrera uma falência geral, sobrevindo a morte, já esperada.

 

Realmente, triste a perda deste grande amigo, dedicado neurocirurgião, professor de primeira linha, alegre, brincalhão, espirituoso, que apesar de suas gozações, nunca ofendia alguém. Foi cremado na Vila Alpina, após ter ido diretamente para o cemitério, apenas com alguns familiares presentes. Ontem mesmo no final da tarde, recebi um telefonema de seu grande e inseparável amigo Oswaldo José, que me deu a triste notícia, que já conhecia. Ficamos muito chocados, ele chegou a chorar copiosamente e terminamos combinando jantarmos juntos, tão logo a fase principal da pandemia melhorasse, permitindo encontros presenciais.

 

Foi então que me lembrei, do último caso que me contou, que ficara guardado no baú de suas memórias, onde enfatizou uma grande coincidência ocorrida em sua vida.

 

Disse ele:

— Há uns 15 anos eu e minha esposa fomos a Recife, convidados para sermos padrinhos no casamento do filho do Dr. H.C.A, querido amigo e grande neurocirurgião daquele estado e do nordeste brasileiro. A cerimônia seria no sábado às 19,00 horas. Chegamos na sexta e nos hospedamos no Transamérica Prestige, bem próximo da orla na praia de Boa Viagem.

 

No sábado, tomamos um excelente desjejum e vestidos com trajes apropriados, fomos caminhar em direção à praia, apreciando o movimento e as variadas lojinhas que se encontravam no caminho. Ao passarmos por uma pequena loja de roupas infantis, minha esposa parou e mostrou-me uma roupinha de bebê muito graciosa. Uma senhora, lá dentro sentada, se aproximou e pediu que entrássemos, pois tinha muitas novidades.

 

Como neurocirurgião, logo observei que a senhora, enquanto mostrava sua coleção, apresentava uma pequena cicatriz no meio da testa e uma depressão na região temporal esquerda, o que era bem sugestivo de que havia sido operada de um aneurisma intracraniano. Perguntei a ela, mais por curiosidade, se havia sido operada de aneurisma cerebral, o que ela confirmou dizendo que havia sido operada por um grande neurocirurgião recifense, citando em seguida o seu nome: Prof. H.C.A.

 

Disse a ela que éramos de São Paulo e que estávamos em Recife para sermos um dos padrinhos no casamento de seu filho naquele sábado. Passamos a desenvolver um bom papo, onde ela não parava de elogiar o referido neurocirurgião. Também o elogiei muito!

 

Nisto ela disse: — Vocês disseram que são de São Paulo, pois há seis anos levei minha mãe para São Paulo, onde foi operada de uma placa grande na carótida, bem aqui no pescoço. Fomos a um neurocirurgião indicado pelo Dr.H.C.A.  que a operou. Vocês já ouviram falar de um tal de Dr. Oswaldo José?

 

— É claro que ouvimos e mais, a senhora se encontra bem na frente dele!!

 

— Meus Deus, não me diga que o sr. é o Dr. Oswaldo!!!

 

— Certamente que sim, e veja que bela e grande coincidência.

 

— Doutor, vou ligar já para minha mãe e dizer que o senhor está aqui na minha frente. Adorou o senhor e disse que foi muito bem tratada. Vai ficar muito feliz em conversar com o senhor! Ela está ótima e nunca mais teve aqueles problemas de enfraquecer subitamente o braço direito e atrapalhar sua fala!

 

Depois de uma conversa de 10 minutos com sua mãe, agradecemos e saímos, após termos adquirido a bela roupinha que minha mulher escolhera e ainda outra, que a senhora nos presenteou.

 

O restante deste dia foi excelente, como esperávamos. Muita alegria. Casamento animado, noiva linda, ambiente de primeira, com muita alegria. Ainda no domingo, permanecemos em Recife, almoçamos no belo apartamento de nosso anfitrião.

Realmente inesquecível!!

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