A enfermeira Antonieta - Ises A. Abrahamsohn




A enfermeira Antonieta  
Ises A. Abrahamsohn



Quando Armando conheceu Antonieta ela já fazia o turno da noite em um grande hospital. Trabalhava de segunda a sexta todas as noites e explicou ao namorado que assim ganhava bem mais. Já se acostumara desde que terminara o curso médio de enfermagem. O namoro acontecia aos sábados e domingos ficando à toa no apartamento de Armando ou às vezes indo ao cinema. Compartilhavam o gosto por música pop americana e por seriados de suspense. A moça gostava de cozinhar o que era mais uma razão para o entusiasmo de Armando. Sentado na cozinha se encantava ao vê-la de jeans, camiseta e avental preparando receitas de macarrão. Lembranças da comida de infância preparada pela avó italiana. Embevecido, repetia que ela se parecia com uma madona de Botticelli.

Um dia iremos à Itália, dizia, mostrando as reproduções num livro de arte. De fato, Antonieta com o cabelo loiro comprido trançado e rosto de pele alvíssima e perfeita poderia passar por uma jovem do norte da Itália. Tinha 30 anos, mas aparentava menos. Tudo nela era delicado e suave. Os gestos, a fala, o olhar, as roupas. Vestia-se de acordo, decotes discretos, cores delicadas. Na cama retribuía calidamente as carícias, sem iniciativas próprias ou sinais de ardente paixão. A Armando não importava a relativa falta entusiasmo, detestava mulheres agressivamente sensuais.

Após um ano, Armando propôs casamento. O ordenado como engenheiro de computação permitiria que ela deixasse de trabalhar à noite. A moça foi peremptória. Não deixaria o trabalho noturno bem pago. Ademais, sempre fora uma pessoa do tipo noturno, detestava acordar cedo e ter que, sonolenta, enfrentar o trabalho. Por fim, Armando cedeu. Viam-se quando ele chegava do trabalho e ela se preparava para sair, e de manhã, quando ela chegava e ele estava de saída. Telefonavam-se algumas vezes durante a tarde ou antes da meia noite. Amavam-se nos fins de semana. Nada muito diferente dos tempos de namoro.

Armando era feliz. Antes demasiado sério e sisudo, ficou mais alegre, e passou a se relacionar melhor com os colegas de trabalho, a maioria mais jovem. Um deles o convidou para a despedida de solteiro do Carlos naquela sexta-feira. Armando tentou se esquivar com várias desculpas mas acabou cedendo. Não gostava nada dessas despedidas, sabia bem como eram. Muita bebida, o ambiente carregado de sexo e garotas insinuantes meio despidas. Mas Carlos era o chefe do setor. Pegaria mal não aparecer. Ainda deu uma ligada para Antonieta sem entrar em detalhes avisando que iria jantar com o pessoal do escritório.

A tal casa noturna era luxuosa. Armando sentou-se com alguns colegas a uma mesa afastada da pista elevada que funcionava como palco. Pediu um sanduíche e um gin tônica que pretendia alimentar com tônica durante o resto da noite. O pessoal mandou ver na bebida. O show iria começar e Armando queria aproveitar para cair fora. Foi se despedir do noivo. Este já bem alto não o deixou sair. Você não pode sair agora. Fique para o início do show . É imperdível.

Armando se viu empurrado para sentar na cadeira de pista ao lado do chefe. O ambiente estava quase às escuras. A música anunciava a primeira atração da noite. Sob um facho luz azul surgira no palco uma enorme concha branca.  E, desta, bem devagar ergueu-se aquela jovem, de pele de alabastro, esguia, rosto suave, completamente nua. Ficou ali de pé, imóvel, por talvez uns três minutos. Um dos braços destacava o seio perfeito enquanto a outra mão mal escondia o púbis sob uma mecha dos longos cabelos loiros.

Armando lançou um grito desesperado: Antonieta!  E desmaiou.

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